Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Eleições israelenses viram plebiscito sobre Netanyahu

Pela primeira vez em 70 anos, a questão palestina não estará no topo da agenda eleitoral

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A eleição do dia 9 será a primeira, nos 70 anos do Estado de Israel, em que a questão palestina não estará no topo da agenda.

Até agora, em todas as campanhas, discutia-se quem seria o candidato mais conveniente para chegar a um acordo com os palestinos ou, inversamente, qual o que mais endureceria com os vizinhos.

Agora, não. Constata, por exemplo, The Times of Israel, excelente diário digital: “Em uma campanha eleitoral tensa, que tem sido farta de insultos e curta em substância, o conflito de Israel com os palestinos está notavelmente ausente dos discursos”.

Homem passa por propaganda do premiê Binyamin Netanyahu, em Tel Aviv (Israel) - Jack Guez/AFP

Na prática, a eleição da próxima terça-feira virou uma espécie de plebiscito sobre o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, há 10 anos no cargo. Se vencer, tornar-se-á o governante que ficará mais tempo no poder.

Superará até Ben Gurion, o estadista que conduziu o país durante a Guerra da Independência e, 
como tal, é tido como uma espécie de patriarca de Israel. (Atenção, Bolsonaros e bolsonaristas fanáticos, Ben Gurion era socialista.)

Que Netanyahu é o centro do pleito, vê-se claramente pelas visões diametralmente opostas manifestadas por seus adeptos e por seus críticos.

Benny Gantz, líder da coligação Azul e Branco, o principal adversário do premiê, disse nesta quarta-feira (3) ao Times of Israel: “Se Netanyahu vencer, teremos a versão israelense do sistema turco”, ou seja, com os tribunais, os investigadores e a mídia sob controle, para que ele se certifique de que não será investigado.

O premiê está preliminarmente indiciado por três casos de corrupção, que, se concluídos apontando sua culpa, o levarão para a cadeia.

Do lado do Likud, o partido de ultradireita de Netanyahu, reage o líder do grupo no Reino Unido, Zalmi Unsdorfer: “Israel tem o verdadeiro privilégio de ter um dos mais formidáveis e experimentados líderes em seu comando, e não há nada que conte mais no mundo do que experiência”.

No eleitorado, há um empate entre os que aceitam uma ou a outra visão: a mais recente pesquisa (do portal noticioso Walla) dá 30% para Azul e Branco e 29% para o Likud. Mas, se somadas as cadeiras que, em tese, direita e centro obterão, ganha Netanyahu: 62 a 58.

Quem perde, de qualquer forma, são os palestinos. Com “Bibi”, na melhor das hipóteses (para eles), manter-se-á o status quo. Na pior, haverá uma ação ainda mais agressiva, como anexar partes da Cisjordânia, o que tornará impraticável o que já é complicado (a criação de um Estado palestino viável, como manda a legislação internacional).

No caso de Gantz vencer e conseguir formar governo, não há clareza sobre o que fará exatamente. Mas seu aliado, o centrista Yair Lapid, tem uma proposta que, com o tempo e eventualmente, poderá produzir modificações: é a convocação de uma conferência regional entre países que querem a estabilidade no Oriente Médio para estabelecer o que Lapid chama de “separação” entre Israel e os palestinos.

O que se pretende com essa conferência é dar concretude a uma ideia que flutua no ar há tempos mas nunca aterrissou até agora: os países árabes reconheceriam a existência do Estado judeu e sua segurança em troca de um Estado Palestino (do qual a configuração dificilmente será a que os 
palestinos sempre exigiram).

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