Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Europa encara seus fantasmas

Eleição do Parlamento Europeu medirá força dos ultras

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A Europa prepara-se para espancar (ou não) seus fantasmas, nas eleições para o Parlamento Europeu, de 
quinta (23) até domingo (26).

Qual é o fantasma? A ascensão da extrema direita, que tem ocorrido em vários países europeus e que os europeístas convictos temem que possa se materializar igualmente no conjunto da obra.

Não que haja possibilidade de que a extrema direita eleja a maioria dos 751 eurodeputados. As pesquisas mostram que a maioria ficará com a coleção, somada, das quatro famílias que defendem o projeto de União Europeia (a social democracia, a direita civilizada —representada no Parlamento pelo Partido Popular Europeu—, os liberais e os verdes).

O que, sim, pode acontecer é que os grupos de ultradireita consigam cadeiras suficientes para bloquear as iniciativas integracionistas. Indiretamente, o pleito interessa ao bolsonarismo de raiz, já que vários partidos da extrema direita são idolatrados ou pelo presidente ou por seus filhos.

A coalizão ultra (Aliança Europeia dos Povos e das Nações) inclui, acima de tudo, a Liga de Matteo Salvini, vice-premiê italiano e ponta de lança para a eventual criação de um tal Movimento, obsessão de Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump e interlocutor dos Bolsonaros. Seria uma internacional neofascista.

salvini com dedos para o alto
O vice-premiê italiano Matteo Salvini, em comício de partidos de extrema direita em Milão - Alessandro Garofalo/Reuters

A argamassa que cola esses partidos é o repúdio à imigração. O que cria uma contradição, segundo Federico Fubini, editor do Corriere della Sera: enquanto governos na periferia da União Europeia (comandados por políticos xenofóbicos) se opõem à imigração, parte do eleitorado está preocupado 
com o inverso, a emigração.

“Húngaros, poloneses e italianos já estão partindo em levas de seus países, e pesquisas recentes mostram que aqueles que ficam estão mais preocupados com os cidadãos que deixam o país do que com estrangeiros que chegam”, escreve Fubini.

A emigração é causada, como é óbvio, pela insegurança econômica. Pesquisa do YouGov em 14 países europeus revelou que a principal ansiedade sobre o futuro tinha significativa dimensão econômica, relata o Conselho Europeu de Relações Exteriores.

Explicava: “Em quase todos os países pesquisados, uma maioria dizia temer que as vidas de seus filhos fossem piores do que as suas.”

Concorda o jornal francês Le Monde: “Nem pobres nem ricos, preocupados com o poder de compra que veem diminuir sob o sopro dos cortes pelas crises e pela globalização, as classes médias estão hoje no coração de todas as atenções [dos partidos que disputam o pleito].”

Os partidos populistas, em grande medida contrários ao projeto europeu, souberam tirar proveito dessa inquietação. Em entrevista a El País, diz o novo líder do Partido Democrático italiano (centro-esquerda), Nicola Zingaretti: “Não há dúvida de que a força dos nacionalismos se assenta na grande capacidade de localizar os problemas que geram raiva. Mas são incapazes de resolvê-los.”

Dá exemplos concretos sobre Matteo Salvini, que cogoverna a Itália com os populistas do Movimento 5 Estrelas: “Disseram que a Itália cresceria 1,4%; em dezembro reduziram para 1% e, agora, estamos em 0,1%. Perdemos 35 mil empregos.”

Resta saber o tamanho com que tais fantasmas surgirão das urnas.

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