Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Hamas e Israel querem destruir um ao outro

Um não pode e, para o outro, o custo seria alto demais

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Israel e o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) acertaram, via intermediários, o enésimo cessar fogo entre eles. A questão seguinte não é saber SE vai durar mas apenas QUANTO vai durar.

Bem feitas as contas, são inimigos mortais. Um quer destruir o outro. Mas, ao mesmo tempo, estão enroscados um no outro porque sabem que “a vitória total sobre o outro é improvável ou, ao menos, inaceitavelmente custosa", como escreveu nesta segunda-feira (6) para Foreign Affairs Aaron David Miller.

Miller é pesquisador do Woodrow Wilson Center e leva a vantagem de ter sido analista do Departamento de Estado. Ou seja, une ao trabalho de acadêmico a informação obtida quando trabalhava no governo. Para ele, “embora nenhum dos dois queira admitir, Israel e o Hamas necessitam um ao outro".

O pesquisador lembra que, em 1979, Israel chegou a reconhecer um grupo caritativo criado por Ahmad Yassin, um dos fundadores do Hamas. O problema é que a criatura fugiu do controle e tornou-se ameaça existencial para Israel, a ponto de Yassin ter sido assassinado pelos israelenses, em 2004, em esforço para brecar os atentados terroristas organizados pelo Hamas.

O grupo israelense Peace Now, empenhado como o nome indica em um acordo de paz entre Israel e os palestinos, soltou nesta segunda-feira (6) comunicado em que, por outra linha de raciocínio, adota a tese de Miller de que Israel necessita do Hamas.

Diz o texto: “É do interesse de Netanyahu (Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel) manter a força do Hamas para aprofundar as divisões entre o Hamas e a Autoridade Palestina [o grupo que governa a outra parte dos territórios palestinos, a Cisjordânia]."

A tese do Peace Now é a de que Netanyahu quer enfraquecer a Autoridade Palestina porque esta “permanece comprometida com a solução dos dois Estados e com a cooperação em segurança com Israel".

É uma tese no mínimo ousada: pressupõe que o primeiro-ministro não está mais interessado na solução dos dois Estados (Israel e Palestina), uma especulação crescente em Israel mas, até aqui, carente de uma definição pública do premiê.

Por que é razoável aceitar a tese de David Miller de que, embora inimigos mortais, nem o Hamas nem Israel podem aniquilar um ao outro? Até que houve várias tentativas de países árabes de eliminar Israel. Perderam todas. Israel tem o exército mais poderoso da região e só pode ser batido, eventualmente, pelo Irã e, mesmo assim, se os aiatolás chegarem à insanidade de armar nuclearmente o país e atacar Israel com a bomba.

Já o Hamas é um misto de organização política, administrativa, clientelista e terrorista (até o Peace Now, que defende uma solução política para o conflito, usa “terrorista” para se referir ao Hamas).

Se Israel quiser eliminar o Hamas, até poderá fazê-lo, mas eliminará não só o núcleo terrorista como todo o resto  —ou seja, a vitória teria o custo inaceitavelmente alto citado pelo acadêmico Miller.

Resta, pois, o que o Peace Now chama de “gerenciamento do conflito", caracterizado por disparos de Israel em resposta a disparos do Hamas até que uma trégua interrompa ambos. Só não se sabe por quanto tempo.

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