Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi
Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

O Brasil ficou preso nas 'futricas do nada'

É o que dá erigir em guru um pilantra aloprado

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Recebi há alguns meses um email de um velho amigo brasileiro, funcionário (da maior competência) de importante organização internacional, em que ele pedia: “Por favor, confirme para mim que tudo isso aí no Brasil é uma alucinação, que nada disso é verdade, que é tudo uma brincadeira da mídia, inspirada na invasão de marcianos do Orson Welles" (episódio radiofônico de “A Guerra dos Mundos", que levou pânico a Nova York, em 1938).

Acrescentava: “Diz aí pro pessoal que, para quem observa de fora, como este seu velho amigo, já está começando a perder a graça, OK? Se não desmascararem isso logo, vamos, sim, virar motivo de chacota internacional".

Ah, meu amigo, se você continuou a acompanhar o Brasil de longe (sorte sua estar longe), já percebeu que:

1 - Não era uma alucinação. O Brasil de fato foi invadido não por marcianos, mas por um bando de malucos, seguidores de um pilantra aloprado.

2 - O Brasil já virou, sim, motivo de chacota internacional.

O que é inacreditável é que o Brasil passou a girar em torno de “futricas do nada", para usar expressão do editorial desta quarta-feira (8) da Folha.

Há, meu amigo, o que a mídia chama de batalha entre a ala militar e a ala ideológica do governo. É um erro, acho eu. Não pode haver uma ala ideológica quando ela não se ampara em ideias mas em tolices e idiotices rematadas.

Está se discutindo se a reforma da Previdência deve ser tal como a proposta pelo governo ou de alguma outra maneira (que, de resto, a oposição nem sequer apresenta)? Não. Basta que o pilantra da Virgínia diga que o militar fulano ou sicrano é um “merda” para que gente da maior competência, como meu amigo Hélio Schwartsman, passe a discutir porque o pilantra fala tanto palavrão.

É tudo o que o pilantra quer. Sua única “expertise” é suscitar polêmicas, de resto inúteis. Ia até dizer que sua “expertise” é incitar polêmicas, mas depois que um dos “alunos” dele (o ministro da Educação, Abraham Weintraub) tuitou “insitar", com "s”, em vez de “c", fiquei na dúvida sobre a grafia correta.
Em apenas quatro meses e oito dias de governo Bolsonaro, seu guru, Olavo de Carvalho, conseguiu o que não havia obtido nos seus 70 e tantos anos anteriores: tornou-se popstar.

O problema, aliás, nem é ele propriamente. Gente especializada em idiotices abunda em qualquer lugar do mundo, no Brasil em especial. O problema verdadeiro é quem leva a sério esse tipo de futriqueiro do nada e o erige em guru.

Quem precisa de guru é quem não consegue pensar com a própria cabeça.

É por isso, meu amigo, que essa invasão de mediocridades e disseminadores de idiotices assusta mais que a invasão dos marcianos inventada por Orson Welles.

Sou capaz de apostar que marcianos são muito mais inteligentes do que os aloprados que ditam a agenda do Brasil —a agenda do nada.

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