Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

As meninas do Brasil, nada poderosas

Outro ranking global, outro fracasso

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Mais um ranking internacional, mais uma vergonha para o Brasil. Cansa. Ainda mais que a comparação, desta vez, é em um âmbito —igualdade de gênero— em que o país até parecia caminhar bem.

Havia, talvez ainda haja, a sensação de que se produzia o empoderamento das mulheres, essa horrível palavrinha importada do inglês e que espero que o Sérgio Rodrigues, meu inefável guru, não me despreze por usá-la.

Choradeira à parte, aos fatos: a Equal Measures 2030 (EM 2030; medidas iguais, na tradução) acaba de divulgar o resultado de seu levantamento sobre como 129 países do mundo estão avançando em igualdade de gênero. O Brasil fica em 77º lugar, portanto na metade de baixo da tabela.

Sua pontuação média é 62,8, rotulada como “pobre", a segunda pior categoria usada no ranking, abaixo de “excelente", “bom" e “razoável”. Supera apenas, como é óbvio, o “muito pobre".

É até covardia comparar o desempenho do Brasil com os primeiros colocados no ranking, que são os suspeitos de sempre, os países nórdicos. A Dinamarca, primeira colocada, fica com 89,3, seguida de Finlândia (88,8) e Suécia (88).

Parêntesis: curiosamente, os três primeiros colocados são hoje governados por partidos da social-democracia, essa tribo execrada pelo bolsonarismo (a Dinamarca deu a vitória ao bloco de centro-esquerda em pleito realizado na quarta-feira, 5).​

 

Menos covarde é comparar o desempenho do Brasil com os países latino-americanos e do Caribe: mesmo entre eles (todos mais pobres do que o Brasil), o país perde de todos os outros 20, exceto dos mais miseráveis, casos de El Salvador, Belize, Honduras, Venezuela, Nicarágua e Guatemala.

Outro parêntesis: duas ditaduras que alguns idiotas de esquerda acham que são regimes esquerdistas —Venezuela e Nicarágua— ficam entre os últimos.

A pontuação média de América Latina/Caribe é 66,5, acima portanto da nota brasileira. Os países da região que têm melhor desempenho —Uruguai, Chile e Costa Rica, pela ordem— situam-se entre os 50 mais bem colocados.

Junto com Argentina, Jamaica e Trindade e Tobago, têm desempenho rotulado como “razoável”. Quatorze países, Brasil inclusive, ficam na categoria “pobre” (em desempenho) e só a Guatemala aparece com nota “muito pobre".

Um dado sobre o Brasil ainda mais alarmante do que o conjunto se deve ao fato de que 70% das mulheres brasileiras sentem-se inseguras ao sair sozinhas à noite, porcentagem só inferior à da notória Venezuela, em que o crime há muito escapou do controle.

A EM 2030 é um esforço conjunto de organizações líderes da sociedade civil, tanto global como regionalmente, e também do setor privado.

Explica no relatório que acaba de divulgar que trabalha para assegurar que os movimentos de mulheres e meninas tenham os dados que necessitam e quando os necessitam, para guiar seus movimentos na busca de que os governos cumpram os compromissos assumidos no âmbito das Metas de Desenvolvimento Sustentável.

Tais metas foram estabelecidas em 2015, com um horizonte de 2030.

O ranking da EM 2030 mede, portanto, o desempenho dos países no capítulo igualdade de gênero, subdividido em 15 subitens, que vão dos habituais “educação", “saúde” e “desigualdade” até, por exemplo, “clima” ou como as mulheres devem ser mais incorporadas à discussão e às decisões relativas a meio ambiente.

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