Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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O caubói Trump ataca de novo

México, a nova vítima do ídolo dos Bolsonaro

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Esse caubói ensandecido que atende também pelo nome de Donald Trump acaba de disparar a esmo mais uma vez, sem nem sequer perguntar quem vem lá. Tascou uma taxa de 5% sobre todas as importações provenientes do México.

É, assumidamente, uma chantagem para tentar forçar o governo mexicano a controlar o fluxo de centro-americanos que querem chegar aos Estados Unidos, atravessando o território do México.

Claro que todo governante tem o dever de tentar evitar a chegada descontrolada e maciça de imigrantes a seu território. Mas não é dessa maneira tosca que se faz, desprezando a raiz do problema.

O presidente Donald Trump discursa durante evento em Washington
O presidente Donald Trump discursa durante evento em Washington - Saul Loeb - 17.mai.19/AFP

Consequência: Trump tomou uma aula de civilidade de seu colega mexicano, Andrés Manuel López Obrador.

“Como converter da noite para a manhã o país da fraternidade para com os imigrantes do mundo em um gueto, um espaço fechado no qual se estigmatiza, se maltrata, se persegue, se expulsa e se cancela o direito à justiça de quem busca com esforço e trabalho viver livre da miséria?”, escreveu AMLO, como é mais conhecido o presidente mexicano, em carta pública.

Fechou com uma frase de efeito: “A Estátua da Liberdade não é um símbolo vazio”.

No período Trump, é um símbolo vazio, sim, AMLO.

Não adianta dizer ao atual presidente americano que os centro-americanos não correm para os EUA só para apoquentá-lo. Querem “viver livres da miséria”, como escreveu o presidente mexicano. Livres também da violência de que países centro-americanos como Guatemala, Honduras e El Salvador são campeões mundiais.

Enquanto a miséria e a violência continuarem a assombrar-lhes a vida vão continuar a tentar fugir delas. O México é a inexorável porta de saída. O que pode fazer para fechar a entrada? Construir um muro? Fuzilar os que tentam entrar no país?

A imposição de tarifas só causa problemas à economia mexicana e, por extensão, só aumenta a dificuldade para enfrentar a situação.

Pergunta, por exemplo, Shannon O’Neil (Council on Foreign Relations), com resposta implícita: “Quando a economia mexicana entrar em recessão, o que Trump pensa que acontecerá com os fluxos migratórios?”

Aumentarão, é óbvio.

Não dá para saber, por enquanto, se a economia mexicana entrará ou não em recessão por causa da redução das exportações a seu principal mercado (os EUA), provocada pela nova tarifa. 

Mas há estudos sérios que indicam que outra vítima do caubói (a China) sofrerá uma redução de 0,8% em seu crescimento quando entrarem em vigor as tarifas punitivas que os EUA anunciaram no mês passado.

O México, menos sólido do que a China, tende a sofrer mais, pela lógica.

Os tiros de Trump atingem os próprios consumidores americanos, conforme demonstrou estudo de economistas do Federal Reserve Bank de Nova York e das universidades Princeton e Columbia: os consumidores americanos é que pagam o preço das tarifas impostas às importações, a ponto de cada lar perder US$ 628/ano (R$ 2.464).

Para Trump nenhuma dessas considerações —de ordem econômica, de solidariedade, de respeito a acordos internacionais— tem o menor valor.

É um “lone rider” que sai por aí atirando. O que se torna ainda mais intrigante é como o bolsonarismo presta vassalagem a esse personagem exótico e disruptor. Seria um espelho?

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