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clóvis rossi
Cuidado, Dunga
A BBC informa: a Fifa lançou uma investigação sobre informações de que a Coreia do Norte puniu alguns jogadores e o técnico, porque a seleção nacional perdeu todos os três jogos que disputou na Copa da África do Sul.
A informação foi divulgada pela rádio Ásia Livre e diz que o time todo foi convocado para um encontro público na capital, Pyongyang, no qual os jogadores tiveram que aguentar um pito de seis horas passado por autoridades, entre elas o ministro de Esportes.
Pior, sempre segundo a rádio, foi o tratamento dado ao técnico, Kim Jong-hun, condenado a trabalhos forçados.
Aposto que você aí está, secretamente, desejando que o Brasil, pelo menos por algumas horas, vire uma ditadura apenas para submeter o técnico Dunga a castigo similar.
Não é preciso tanto. No âmbito da CBF, o regime pode não chegar aos extremos norte-coreanos, mas não deixa de ter um viés soviético no tratamento do técnico deposto. Assim como na extinta URSS, personalidades caídas em desgraça eram apagadas das fotos oficiais, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, faz um esforço imenso para apagar Dunga do mapa, completamente esquecido de que era o chefe do técnico e, portanto, corresponsável primeiro por sua indicação e, depois, por todos os problemas que só agora resolve apontar.
Não tenho a menor simpatia pelo trabalho e pelos modos de Dunga. Mas tenho ainda menos simpatia pelos engenheiros de obras feitas. Ou seja, por aqueles que passam a criticar, depois do fracasso, aquele a quem louvavam, bajulavam ou, no mínimo, apoiavam por omissão.
Vale para a CBF, vale para o pedaço da crônica esportiva que ou silenciou sobre os despropósitos da gestão Dunga ou se deixou "patrulhar" pelas queixas do técnico e calou, com medo de que, de repente, ele voltasse campeão do mundo, o que, em tese, desmoralizaria os críticos.
Digo em tese porque, como ensina mestre Tostão uma e mil vezes, está se dando relevância demais aos técnicos de futebol quando eles são infinitamente menos decisivos do que se quer fazer crer.
Para azar de Dunga, a seleção fez uma belíssima partida contra os Estados Unidos, o que facilita o trabalho de "apagá-lo" da memória da CBF e do público, ao mesmo tempo que começa o endeusamento de Mano Menezes.
Dá vontade de dizer que é mais autêntico condenar o técnico a trabalhos forçados do que esse modelo hipócrita de bajulação hoje e fuzilamento moral amanhã.
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.
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