Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

clóvis rossi

 

11/08/2010 - 16h20

Cuidado, Dunga

A BBC informa: a Fifa lançou uma investigação sobre informações de que a Coreia do Norte puniu alguns jogadores e o técnico, porque a seleção nacional perdeu todos os três jogos que disputou na Copa da África do Sul.

A informação foi divulgada pela rádio Ásia Livre e diz que o time todo foi convocado para um encontro público na capital, Pyongyang, no qual os jogadores tiveram que aguentar um pito de seis horas passado por autoridades, entre elas o ministro de Esportes.

Pior, sempre segundo a rádio, foi o tratamento dado ao técnico, Kim Jong-hun, condenado a trabalhos forçados.

Aposto que você aí está, secretamente, desejando que o Brasil, pelo menos por algumas horas, vire uma ditadura apenas para submeter o técnico Dunga a castigo similar.

Não é preciso tanto. No âmbito da CBF, o regime pode não chegar aos extremos norte-coreanos, mas não deixa de ter um viés soviético no tratamento do técnico deposto. Assim como na extinta URSS, personalidades caídas em desgraça eram apagadas das fotos oficiais, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, faz um esforço imenso para apagar Dunga do mapa, completamente esquecido de que era o chefe do técnico e, portanto, corresponsável primeiro por sua indicação e, depois, por todos os problemas que só agora resolve apontar.

Não tenho a menor simpatia pelo trabalho e pelos modos de Dunga. Mas tenho ainda menos simpatia pelos engenheiros de obras feitas. Ou seja, por aqueles que passam a criticar, depois do fracasso, aquele a quem louvavam, bajulavam ou, no mínimo, apoiavam por omissão.

Vale para a CBF, vale para o pedaço da crônica esportiva que ou silenciou sobre os despropósitos da gestão Dunga ou se deixou "patrulhar" pelas queixas do técnico e calou, com medo de que, de repente, ele voltasse campeão do mundo, o que, em tese, desmoralizaria os críticos.

Digo em tese porque, como ensina mestre Tostão uma e mil vezes, está se dando relevância demais aos técnicos de futebol quando eles são infinitamente menos decisivos do que se quer fazer crer.

Para azar de Dunga, a seleção fez uma belíssima partida contra os Estados Unidos, o que facilita o trabalho de "apagá-lo" da memória da CBF e do público, ao mesmo tempo que começa o endeusamento de Mano Menezes.

Dá vontade de dizer que é mais autêntico condenar o técnico a trabalhos forçados do que esse modelo hipócrita de bajulação hoje e fuzilamento moral amanhã.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página