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clóvis rossi

 

02/06/2011 - 18h18

Cuba, capital calle Zulueta

A Espanha, como todo o mundo sabe, vive uma baita crise, que levou o desemprego a obscenos 21,3% no mês passado, o mais alto índice de todo o mundo industrializado.

Crise que é também de confiança na política, a ponto de ter provocado uma formidável mobilização por "Democracia Real Já", que pode ter perdido intensidade mas continua no ar.

Não parece, portanto, ao menos no momento, um formidável polo de atração para estrangeiros. Mas é quando falamos de um país ainda mais enrascado, chamado Cuba. Escreve para "El País" Yoani Sánchez, a mais famosa blogueira de Cuba, também símbolo da dissidência, além de prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo: "A esquina que formam as 'calles' Cárcel e Zulueta, na qual ondeia a bandeira vermelho-amarela [a da Espanha], converteu-se em local de peregrinação para os que querem partir. A fila de espera é imensa, os seguranças revistam todos os papeis antes de deixar passar, o sol caribenho do meio dia não faz ninguém desistir".

Completa: "São dezenas, centenas, milhares de solicitantes cada semana. (...) Entram aos borbotões por uma porta, como cubanos, e saem mostrando o documento que os reconhece como cidadãos de outro lugar. Até caminham de modo diferente quando deixam para trás a ampla grade: parecem mais ligeiros, menos nervosos, mais espanhois".

É uma cruel ironia que a calle Zulueta fique próxima do Museu da Revolução, aquela que incendiou corações e mentes nos anos 50/60 e, hoje, é apenas peça de museu, que não serve nem para os próprios cubanos, quanto mais para exportação, como admitiu não faz muito o patriarca Fidel Castro. É verdade que, depois, disse que fora mal interpretado, mas as filas diante dos consulados não fazem mais do que provar que a primeira versão era a idônea.

Pior é que o regime promete reformas, mas não se emenda no seu pior aspecto, que é o repressivo: seis opositores acabam de ser condenados a entre dois e cinco anos de prisão pelo "crime" de lançar panfletos contra o governo com dizeres óbvios em qualquer ditadura: "Abaixo a ditadura dos Castro" e "Liberdade para os presos políticos".

Como diz o ex-preso político Oscar Espinosa Chepe, um dos 75 opositores condenados a 20 anos de prisão na primavera de 2003, no máximo tais "crimes" deveriam ser punidos "com multa por jogar papeis no chão".

Alguma surpresa com as filas na esquina de Cárcel e Zulueta?

Em tempo: o ex-presidente Lula encerrou esta quinta-feira uma visita de dois dias a Cuba. De novo, nenhuma palavra sobre prisões, apenas a "alegria" pelo fato de que as relações do Brasil com Cuba vão bem, conforme o relato de Mauricio Vincent, correspondente de "El País" na ilha caribenha.

Lula visitou as obras de modernização do porto de Mariel, no qual se ergue um grande terminal de contêineres e diversas infraestruturas com um crédito brasileiro de US$ 300 milhões. Para Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático de Dilma Rousseff, cargo que já ocupara com Lula, Mariel só tem sentido se for para exportar para os Estados Unidos --o que significa que, até que fique pronto, as relações entre os dois países terão que ser restabelecidas.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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