Colo de Mãe

Cristiane Gercina é mãe de Luiza e Laura. Apaixonada pelas filhas e por literatura, é jornalista de economia na Folha

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Nenhuma criança merece ensino a distância, muito menos no país de Bolsonaro

Pandemia mostrou ser possível estudar de casa, mas escancarou o adoecimento mental infantil

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São Paulo

O ano era 2020. O mês, março. A pandemia de Covid-19 invadia o país e mudava para sempre a vida de pais e filhos. Depois dela, nenhuma família seria a mesma, especialmente no que diz respeito à saúde mental de cada um de seus membros.

Em menor ou maior grau, o aparentemente tão distante ano de 2020, mexeu com todos nós. Parecer ter sido há muito tempo, mas está logo ali, num nosso passado recente, há apenas dois anos de nós, e, mesmo assim, muitos parecem tê-lo esquecido.

É na escola que as crianças aprendem a conviver com as diferenças, onde buscam abrigo, socorro, amizade e auxílio - Fotolia

Naqueles meses, era enlouquecedor e, ao mesmo tempo, tranquilizador ver nossos filhos terem aulas de casa, a distância, pelo computador, com o professor atendendo-os de forma remota e nós sendo os educadores da vez. Era enlouquecedor, mas, ao mesmo tempo, tranquilizava os corações, já que, na ocasião, apenas o distanciamento social podia proteger contra o contágio do coronavírus.

O que, em nossa cabeça, acabaria em poucos meses, se alongou e o ensino a distância, tão necessário naquele momento, escancarou os problemas de aprendizado no país, que vão desde a falta de suporte tecnológico para fazer as aulas à depressão, entristecimento, raiva e isolamento que assola crianças e jovens.

Naquele momento, o governo federal não deu prioridade à educação. O setor educacional privado foi um dos que não recebeu nenhum auxílio do poder público para que implantasse as plataformas necessárias para a educação a distância. As escolas de elite saíam na frente e, na periferia, alunos não tinham nem internet. No setor público, a atenção à crise educacional e o suporte aos alunos ficou por conta de estados e municípios.

O que muito espanta —ou não— é o fato de que, agora, há um esforço do governo federal para aprovar projeto de lei que regulamenta o ensino domiciliar, fazendo com que pais despreparados possam educar seus filhos, impedindo-os de conviver com outras crianças.

Desconfio muito de algo quando o apoio a essa questão vem da base parlamentar de um governo que gastou milhões em kits de robótica para escolas que não têm nem água. Na cabeça dos que defendem o projeto, é preciso que famílias compostas por "cidadãos de bem" eduquem seus filhos longe de "ideologias".

Já disse, em ocasião anterior, e volto a repetir: nenhuma criança merece ensino a distância, muito menos no governo Bolsonaro, em que a educação tem sido sucateada a cada dia. Os investimentos na área foram os menores das últimas décadas. Educação não é uma prioridade desse governo.

Crianças e adolescentes precisam de convívio com o diferente. Precisam aprender por meio da experiência do outro e ensinar por meio de sua experiência. A escola é o primeiro microcosmo da experiência com a diversidade humana. E não há nada mais bonito que isso.

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