Colo de Mãe

Cristiane Gercina é mãe de Luiza e Laura. Apaixonada pelas filhas e por literatura, é jornalista de economia na Folha

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Colo de Mãe

A maternidade também pode ser solo mesmo quando há um companheiro

Mesmo casadas, mulheres seguem sendo as únicas responsáveis pelos filhos; é preciso mudar

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São Paulo

Desde que me tornei mãe, tenho transitado entre dois espectros de mulheres casadas com suas maternidades: as que expõem suas dores, reclamando muitas vezes da solidão de um relacionamento a dois, e as que encobrem suas dores, exaltando feitos básicos da paternidade pouco ativa, mas que faz jus ao porta-retrato da foto em família.

Nenhuma das duas receitas funciona como liga de um relacionamento a dois, mesmo cada mulher/mãe tentando representar a sua realidade da forma que doa menos. As que já perderam as paixões expõem as feridas da falta de parceria. As que ainda amam ou têm vergonha de mostrar ao mundo que não vivem um sonho perfeito, escondem as falhas e a solidão.

Há ainda as que riem e fazem rir e as que, como eu, tentam estar no caminho do meio: sem romantizar, nem demonizar, apenas viver e debater as realidades e obrigações maternas e paternas. Resumindo: não estou aqui para passar a mão na cabeça de ninguém, mas não esperem me ver expondo privacidades.

Mulher trabalhando com bebê
Mulheres estão sobrecarregadas em relacionamentos onde, mesmo casadas, a maternidade segue sendo solo - Fotolia

Entendo e sei que não há receita de felicidade. Quem pensa que parir um filho tendo um marido, namorado ou companheiro ao lado vai fazer a jornada menos dura pode se enganar. A mesma regra vale para quem se desespera ao se separar ou ter um filho de surpresa, em um relacionamento não estabelecido. Pode ser que seja solitário, pode ser que não.

O alerta é que não dá para viver acreditanto que seguir protocolos é a receita da felicidade. "Vou namorar, noivar, planejar um filho, parir e ter parceria para sempre" ou "vou transgedir a regra, ir contra o que prega a sociedade porque assim vai dar certo". Não há receita. Já vi dar certo dos dois jeitos, mas já vi dar muito errado das duas formas.

A gente precisa parar de romantizar a parceria. Ela não é um presente. Na paternidade, ser parceiro é uma obrigação. É o mínimo, independentemente de estarmos casadas ou não. Não é sobre mim ou o marido, é sobre o filho. Um outro ser humano que a gente coloca no mundo e pelo qual somos todos responsáveis.

Levar para a escola, comprar roupa, comida, levar em médico, controlar a agenda, marcar consultas, fazer o cardápio da semana, cozinhar. São apenas algumas das poucas tarefas que devem ser feitas pelas mães e pelos pais.

Tarefas que podem ser cumpridas estando casados ou não. Namorando ou não. E esse é o ponto. Vejo muitos casais em que a união está apenas na foto do porta-retrato, mas que as mulheres vivem uma maternidade solitária, uma maternidade solo. E, se está bom para os dois, não sou eu quem vou determinar qual caminho seguir.

O problema é quando a solidão materna no relacionamento a dois atinge a mulher não apenas no seu esgotamento físico, mas no emocional e na autoestima. O primeiro passo é encarar que não dá para ser solo nessas condições. O segundo passo é parar de romantizar parceria que não existe ou parceria mínima. O terceiro passo é entender se quer seguir junto e consertar ou se quer se separar. O quarto passo é chegar junto e determinar as responsabilidades de cada um com um ponto final, sem negociações.

O quinto passo é entender que a culpa não é da mulher, é de uma sociedade que força as mulheres a assumirem tudo e isso tem que mudar. Comece sendo você a mudança que encara o problema não como algo pessoal, mas coletivo. Abra mão do que for, mas não abra mão de você. Mãe não pode ser metade, tem que ser inteira. Então, a parceria tem que ser sua com você. Dessa forma, não há solidão, só completude.

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