A infância é roubada todos os dias em nosso país, com um grande número de crianças ainda sem acesso adequado à saúde, educação e dignidade humana. Há ainda a violência sexual, que atinge meninos e, especialmente, as meninas na mais tenra idade.
Mas ela pode ganhar ares de perversidade quando uma criança grávida se encontra à frente de uma juíza e uma promotora "pró-vida" que a impedem de fazer um aborto legal, e ainda fazem terror psicológico.
Aos dez anos, uma garotinha do Sul do país foi estuprada. A mãe buscou ajuda para um aborto em um hospital público, que se negou a fazer o procedimento porque a menina já estava com 22 semanas de gestação.
Na Justiça, a garota não teve seu direito à vida digna atendida, conforme revelou reportagem do The Intercept, e ainda foi tirada de sua família, colocada em um abrigo e, em uma audiência que é de partir o coração, uma juíza e uma promotora cometem uma série de violências ao perguntar se ela aceitaria ficar com o bebê na barriga "só um pouquinho" necessário para ele nascer e ser doado.
O que foi feito com essa menina, hoje com 11 anos e quase 30 semanas de gestação, tem requintes de crueldade em várias fases do processo. Na audiência em que a juíza e a promotora promovem uma espécie de terror psicológico com a garota, o presente de aniversário oferecido a ela é escolher o nome da criança. O que ela recusa.
A juíza pergunta se a garota pode ficar com a criança dentro de seu ventre por mais uma ou duas semanas para que o feto tome remédios necessários para o pulmão e, possa assim, ser retirado e doado a uma outra família. A magistrada questiona ainda se a garotinha quer o bebê. E ela diz: "Não".
A juíza afirma ainda que, se o feto seguir vivo, fará algum casal muito feliz, ao que a mãe da menina responde: "É uma felicidade, porque não estão passando o que eu estou".
Os riscos para essa menininha de 11 anos, que não teve festa de aniversário, foi estuprada, foi violentada pelo poder Judiciário, colocada longe de sua mãe e vítima de terror psicológico são de morte ou de perda do direito de gerar uma nova vida no futuro. Ela pode sofrer anemia grave, pré-eclâmpsia, tem maior chance de hemorragias e até histerectomia, que é a retirada do útero, segundo laudos médicos.
A história da garota do Sul se cruza com a da menina de 10 anos estuprada pelo tio no Espírito Santo, que precisou ir ao estado de Pernambuco para que o aborto fosse feito. Em sua cidade, foi chamada de assassina. Na porta do hospital, ouviu gritos de assassina.
Tudo isso com apoio e financiamento do governo federal. O endereço da garotinha, inclusive, foi exposto nas redes sociais por funcionários do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. A própria ministra na época, Damares Alves, agiu contra a criança e sua família.
Além da violência sexual, houve violência do Estado, que negou o direito ao aborto em hospital público, violência da Justiça, com requintes de crueldade, e há uma outra violência profunda que é a ideia de que bebês devem ser produzidos, mesmo após crime sexual, para serem doados a quem não consegue ter filhos.
Tenho duas filhas mulheres e meu coração está partido com essa história hoje. Criança não é mãe NUNCA. Aos que não entenderam isso ainda, é preciso aprender a dura lição.
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