Assim como não existe racismo reverso, heterofobia e ditadura gay não há preconceito contra as mulheres que não são mães que lhes tire oportunidades, especialmente no mercado de trabalho.
Considero mulheres que decidiram não ter filhos como muito corajosas em uma sociedade que entende a mulher como procriadora e quer se apossar de nossos corpos, de nossas escolhas e de nossos destinos.
Ir contra essa corrente é difícil, entendo, mas não consigo enxergar a profundidade desse preconceito que as mulheres que não tiveram filhos dizem sofrer.
Sei que são vítimas de olhares tortos e comentários de gente sem noção. Mas não passa disso. Ninguém deixa de dar uma vaga de emprego a alguém simplesmente pelo fato de que essa pessoa escolheu não ser mãe. "Ah, desculpe, essa vaga era especificamente para quem tenha filhos ou queira procriar." Desculpem-me, mas nunca ouvimos falar sobre isso.
Não há mulher no mundo que deixe de ser promovida ou ter seu trabalho reconhecido porque escolheu não ter filhos. Mas deixar de ser contratada ou de ter uma promoção, mesmo após muito esforço, é algo comum no dia a dia das mães. Situação essa que é amplificada caso a mulher tenha mais de um filho ou tenha filhos que precise de cuidados mais profundos, como bebês pequenos ou crianças com deficiência.
Nenhum homem é demitido porque se tornou pai. Nenhuma mulher é demitida porque decide não ter filhos. Nenhuma mulher sem filhos é questionada, na entrevista de emprego, como ela faz para lidar com as crianças enquanto trabalha, com quem pretende deixá-las e como se divide entre o emprego e a maternidade no dia a dia.
Não existe empregador ou recrutador que olhe nos olhos de uma mulher sem filhos e diga a ela que não é possível conceder a vaga de emprego porque, como não tem filhos, não terá ninguém para cuidar dela no futuro ou não sabe o que é chegar em casa e ter que dar atenção a outro ser humano.
Respeito muito quem escolhe a não maternidade. Há vários motivos e razões para isso. Há as que nunca se viram mães e as que não conseguiram engravidar e desistiram dessa árdua tarefa que é reproduzir e ser totalmente responsável por nutrir física e psicologicamente outro ser.
Respeito as mulheres que gostam de reforçar que não são mães de seres humanos, mas que se autointitulam mães de bichos e plantas, exercendo, de certa forma, a maternidade que muitas delas condenam. Mas, para avançarmos como seres humanos, precisamos separar os problemas sociais e atacar o que é mais urgente.
Há uma luta gigante para que mulheres mães obtenham espaço, para que não sejam condenadas no mercado de trabalho, no mundo da ciência e em tantos outros locais só porque têm filhos. Encampo com as não mães a luta pelo nosso direito de escolha, mas as convido a refletir sobre o que, de fato, precisa ser discutido e combatido em um país que condena mães e crianças diariamente.
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