Primeiro, soube-se que, na surdina do WhatsApp, o presidente convocava para os atos do dia 15 de março contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. No sábado, a caminho de mais um beija-mão com Trump, aproveitou a escala em Boa Vista (RR) e reforçou a convocação às claras, na presença de militares. "Participem", encorajou Bolsonaro.
Por si só, o chamado é grave o suficiente para demandar resposta contundente e o repúdio insofismável dos Poderes desafiados. Não foi o que se viu por parte dos presidentes da Câmara, do Senado e do STF. Silêncio estratégico ou amedrontado?
Enquanto os Poderes se mantêm em estado de letargia, o submundo digital da extrema direita se assanha com invocações de golpe militar e prisão dos corruptos que não deixam o presidente governar. Está claro que se referem aos políticos. Açulados pelo presidente, empresários também sentem-se à vontade para dizer que bancarão as despesas desses protestos. Teremos que esperar até o dia 15 para ter uma ideia mais precisa do efeito do apelo presidencial.
Bolsonaro é um provocador nato. Investe no que sabe fazer de melhor: tensionar as instituições e apostar no caos, que beneficia líderes autoritários. E faz isso num país com 11,9 milhões de desempregados, em que a uberização desagrega trabalhadores e lares, filas se estendem nos guichês do Bolsa Família e do INSS e legiões de indigentes se enfileiram sob as marquises para passar a noite. Até quando o presidente irá promover a algaravia com que tenta abafar sua incompetência?
Diversos movimentos de oposição convocaram atos para se contrapor à articulação da base bolsonarista. O primeiro deles deu-se no Dia Internacional da Mulher. Embora relevantes, as manifestações decepcionaram quem esperava algo próximo da magnitude de um #elenão. Outros protestos estão marcados para os próximos dias. Mas quem conquistará os corações e mentes da multidão de indiferentes? Eis a questão.
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