Bolsonaro fez um discurso histórico na ONU. Sim, histórico, pela quantidade de mentiras nele contidas. E acanalhou o palco mais importante da comunidade internacional, no momento em que o mundo mais precisa de líderes verdadeiramente empenhados em combater um mal que a todos assola.
A ONU foi criada há 75 anos, após o mundo ter passado por uma pandemia (a gripe espanhola) e sobre os escombros de duas guerras mundiais, uma quebradeira econômica planetária, genocídios e outros flagelos. Como disse o secretário-geral, Antonio Guterres, os fundadores "sabiam o custo da discórdia e o valor da unidade".
O presidente desfiou seu rol de mentiras como se estivesse no cercadinho do Alvorada. Eximiu-se de qualquer responsabilidade pelo inconcebível número de 140 mil mortos pelo coronavírus no Brasil. Falseou os números do auxílio emergencial. Disse que combateu o contágio, quando sabotou os esforços de governadores e prefeitos em estabelecer a quarentena.
Mas foi ao falar de meio ambiente —seu tendão de Aquiles no exterior— que Bolsonaro chegou ao paroxismo da construção ficcional. O embuste maior foi culpar indígenas e caboclos pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal. Num caso como no outro, no ano passado e neste, a polícia investiga donos de grandes fazendas como mandantes e autores dos incêndios criminosos. Que ele despeje suas mentiras no cercadinho, vá lá... Mas na ONU? Fica por isso mesmo?
Infelizmente, teve gente que fez pior que Bolsonaro, o que não é nenhum consolo. Trump, com a mesma disposição de escrachar tudo o que toca, aproveitou a Assembleia Geral para fustigar a China, acusando-a de espalhar o coronavírus. Antonio Guterres insistiu no multilateralismo e disse que é preciso evitar a todo custo que os Estados Unidos e a China dividam o mundo em uma "grande fratura". Pena que seus apelos tenham caído em ouvidos moucos.
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