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Querido Dan,Meu filho de 19 anos tem Síndrome de Asperger e é incapaz de mentir. Ele tem a tendência a enxergar o mundo em extremos e tem dificuldade para lidar com “mentirinhas”. Já suplicamos para que ele, pelo menos às vezes, elogie as pessoas para poupar seus sentimentos, mas ele considera importante ser sempre brutalmente sincero. Ele me diz: “E se você elogiar o desenho feio de alguém e essa pessoa quiser tentar uma carreira como desenhista? Por que dizer a alguém que o novo corte de cabelo está bonito quando você pode avisá-lo que irão tirar sarro dele?”. Dan, gostaria de saber se você já estudou as maneiras que a desonestidade é vista de maneira diferente por pessoas que estão no espectro do autismo.

Bill

Bill, eu escrevi um livro sobre desonestidade e frequentemente dou palestras sobre o tema. Ao longo dos anos, muitos pais me procuraram depois de minhas palestras para me contar sobre filhos que simplesmente não conseguem mentir —e, geralmente, acabam descobrindo que essas crianças têm alguma forma de autismo.

Recentemente, eu falei sobre isso com Murali Doraiswamy, professor de Psiquiatria e Ciências Behavioristas da Duke University, que confirmou que muitas crianças no espectro do autismo realmente têm extrema dificuldade diante da noção de não dizer a verdade sobre algo. De acordo com ele, isso é causado pelo problema que eles têm com o que especialistas do ramo chamam de “Teoria da Mente” —isto é, a simples habilidade de nos colocar no lugar de outras pessoas e ter empatia pela perspectiva dos outros.

A maioria de nós tem a capacidade de se perguntar, “como essa pessoa vai se sentir se eu falar que o novo corte de cabelo está horrível ou que está com cheiro ruim?”. Muitos jovens com síndrome de Asperger não tendem a pensar dessa forma, então na maior parte das vezes eles não desenvolvem a habilidade de contar “mentirinhas” por motivos de educação. Eles não aprendem a guardar verdades dolorosas para poupar os sentimentos dos outros.

Minha visão é que na prática essa educação social muitas vezes funciona quase como treinamento para mentiras mais sérias, então crianças que não entendem essas mentiras inofensivas também frequentemente não desenvolvem a capacidade de mentir numa escola maior –o que, na verdade, não é algo ruim. Talvez devêssemos tentar ter um presidente com Asperger.

Querido Dan,

Se seres humanos fossem ferramentas, que ferramentas nós seríamos?

Kelly

Kelly, a melhor analogia para descrever a natureza humana é o canivete suíço.

Primeiramente, o objeto é útil em várias situações. Segundo, o canivete suíço nos dá muitas ferramentas e possibilidades, mas nenhuma delas (sem querer ofender canivetes suíços) é tão boa assim. O canivete é pequeno; a chave de fenda é difícil de usar, o abridor de latas é até bom mas leva tempo para operar. E terceiro: tudo o que fazemos com o canivete suíço leva algum tempo —temos que descobrir qual é a ferramenta que queremos, cravar nossas unhas no entalhe e tirar a ferramenta desejada.

Juntas, essas características são um eco da natureza humana. Na realidade, não somos “ideais” para nada e podemos demorar um pouco para funcionar, mas fazemos um trabalho até que decente diante de diversos desafios.

Querido Dan,

Qual é o atributo mais importante para procurar num parceiro romântico a longo prazo?

Ed

Ed, baixas expectativas. A maior parte da nossa felicidade depende da relatividade —comparar o que temos com o que esperávamos ter. Em relacionamentos de longo prazo, é normal que nos sintamos decepcionados em algum momento.

Mas se simplesmente ajustarmos nossas expectativas, podemos nos sentir surpresos de uma maneira muito positiva de tempos em tempos.

Dan Ariely