Dan Ariely

Professor de economia comportamental e psicologia na Universidade Duke (EUA), autor de “Previsivelmente Irracional”.

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Dan Ariely

Ask Ariely: sobre criar compromissos, simular dor e couves tentadoras

Convencer as pessoas a se importarem com o meio ambiente é um dos maiores desafios

Querido Dan,

fui a uma palestra muito boa sobre aquecimento global e, ao fim, me senti extremamente motivada a fazer mudanças reais em minha vida e causar um impacto mais positivo ao meio ambiente. Dois meses depois, percebi que apesar de minhas intenções terem sido boas, fiz muito pouco para realmente mudar meu comportamento. Por que é tão difícil tomar atitudes com relação a novas escolhas?

Rachel

 

Rachel,

Isso é muito humano e comum. Há várias situações em que sentimos que devemos agir de maneira específica, mas acabamos não fazendo isso –como nos exercitar, comer de maneira mais saudável, lavar mais as nossas mãos, ter relações sexuais seguras ou parar de mandar mensagens enquanto dirigimos.

Acredito que convencer as pessoas a se importarem com o meio ambiente é um dos maiores desafios comportamentais que existem atualmente. De algumas maneiras, é como se essas situações fossem programadas de propósito para maximizar a apatia humana: as consequências são probabilísticas e podem ou não acontecer num futuro que não está próximo, além de que qualquer ação que tomarmos é apenas uma gotinha no balde. Resumindo: todos os elementos que criam essa apatia humana estão envoltos no desafio.

Então como garantir que estamos agindo de acordo com nossas crenças? Talvez, criar regras bem específicas para nós mesmos, como por exemplo comer bem menos carne. Escreva essas regras, conte sobre elas para outras pessoas e fale sobre como está se comprometendo a mantê-las – e então, faça o seu melhor para segui-las.


Querido Dan,

sou cirurgião dentista e, com frequência diária, tenho pacientes com dor durante os procedimentos e até quadros de muita ansiedade (devido à dor). Eu tenho a solução para muitos deles, que é a sedação intravenosa. Mas infelizmente, o custo disso é alto, o que faz com que muitos pacientes optem, antes da cirurgia, por sofrer de dor para evitar o pagamento. Você tem algum conselho sobre como orientar meus pacientes com relação à sedação intravenosa e como ela os beneficiaria muito e pouparia bastante sofrimento?

Andrew

 

Andrew,

Ajudar as pessoas a entender como se sentirão num momento futuro –especialmente em se tratando de uma dor que nunca sentiram antes– é complicado. Eu sugiro que você tente criar uma comparação entre a dor dessa cirurgia com outro tipo de dor.

Peça, por exemplo, que seus pacientes coloquem a mão num balde de gelo (o que é extremamente doloroso) e, enquanto estiverem sentindo essa dor, explique que essa é a forma como a cirurgia irá doer sem a sedação intravenosa. Com a diferença, é claro, de que a cirurgia dura cerca de uma hora inteira.

No fim, pergunte ao paciente se ele prefere pagar pela sedação intravenosa ou fazer a cirurgia sem. Assim, as pessoas podem tomar uma decisão mais consciente e se preparar. Acredito que mais pessoas irão optar pela sedação.


Querido Dan,

Percebo que em feiras e mercados menores, me preocupo menos com preços e tendo a gastar até mais do que quando faço compras em supermercados comuns. Será que a presença de outras pessoas é que me deixa menos preocupado com quanto dinheiro eu gasto? Eu me pergunto se a mesma tendência vale para visitantes de mercados de pulgas ou outros comércios ao ar livre, onde pessoas se reúnem em “mini comunidades” temporárias. Será que é isso ou totalmente outra coisa?

Paul

 

Paul,

Meu palpite é que isso seja resultado de um estado de empolgação. Não a empolgação de estar perto de pessoas, mas uma empolgação relacionada a uma espécie de escassez; você tem menos tempo para comprar e consumir, por exemplo, uma couve cultivada localmente ou outras coisas feitas à mão. O entendimento que essa “oportunidade” de consumir irá rapidamente passar, e então não teremos outra forma de adquirir aquele determinado produto, nos faz querer esse produto muito mais – e acabamos comprando sem prestar muita atenção ao preço.

Dan Ariely

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