Dan Ariely

Professor de economia comportamental e psicologia na Universidade Duke (EUA), autor de “Previsivelmente Irracional”.

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Dan Ariely

Ask Ariely: Depressão eleitoral, férias escolares e superação de vícios

Esta época eleitoral tem me deixado desacreditado Há algum político que você admira?

Querido Dan,

Esta deprimente época eleitoral tem me deixado profundamente desacreditado da atual situação política. Você tem algum conselho para que eu me mantenha otimista? Há algum político que você admira?

—Alfredo

Meu político preferido, indubitavelmente, é Antanas Mockus —um matemático e professor de filosofia que se tornou um político nada convencional e que atuou como prefeito de Bogotá há alguns anos atrás fazendo várias tentativas, sem sucesso, para a presidência da Colômbia. Durante seus dois mandatos oficiais (1995-97 e 2001-03) introduziu uma série de mudanças comportamentais positivas à sua cidade, conhecida por ser sem regras e comandada pelo crime. Ele conseguiu reduzir o uso da água, incitou os colombianos a obedecer às leis de trânsito e diminuir a violência.

O então prefeito Mockus enraizou sua liderança de forma nada convencional, por vezes teatral, em um profundo entendimento de nossa natureza social. Uma de suas invenções, por exemplo, foi a Ley Zanahoria (literalmente traduzida como a “Lei da Cenoura”, na Colômbia, a palavra para este vegetal evoca uma pessoa nerd) a qual ordenava que bares e outros estabelecimentos noturnos, fechassem suas portas à 1h da manhã, diminuindo crimes e acidentes de carro.

Mockus, trabalhou, não só formal, como informalmente, no intuito de cultivar um comportamento cívico honrável —elogiando cidadãos bem-humorados, que cumprem as leis e não fogem de suas obrigações.

Com a popularização desses ideais e a incitação dos cidadãos de Bogotá de se vigiarem e apontarem comportamentos inconvenientes, Mockus convidou os moradores da cidade a pôr fim aos círculos viciosos reforçando os virtuosos.  Ele liderou o caminho para estabelecer normas sociais melhores e mais sólidas.

Mockus também alcançou uma maneira não-convencional de economizar água. Como um relatório do Banco Mundial apontou, ele foi visto, certa vez na TV, ‘tomando banho com sua esposa” —demonstrando como se economiza água enquanto se diverte.


Querido Dan,

Como o ano escolar está prestes a terminar, estou começando a pensar a respeito das atividades de férias de verão para meus filhos de 10 e de 13 anos, ambos relativamente bons e interessados em teatro e dança. Mandá-los a um acampamento para aperfeiçoar seu desempenho seria uma boa opção para passarem o verão?

—Vanessa

Primeiramente, parabéns por se mostrar tão preocupada sobre os planos de férias de verão de seus filhos. Uma das mais interessantes (e depressivas) lições que temos aprendido sobre educação é que, sem os programas enriquecedores de verão, as crianças tendem a esquecer, facilmente, os ensinamentos que adquirem na escola.

Aqui está o real questionamento sobre sua escolha: deveriam suas crianças se desenvolver nas atividades que já exercem bem (música, teatro e dança), ou seria melhor que eles desenvolvessem habilidades ainda desconhecidas?

Como seus filhos são ainda muito jovens e seus gostos e talentos ainda não amadureceram e se estabilizaram, eu sugeriria que usassem as férias de verão como uma oportunidade de expandir seus horizontes oferecendo a eles coisas que eles ainda não exploraram. Talvez enviando-os a uma colônia de férias que foque em textos criativos, ciência ou trilhas na natureza.


Querido Dan,

De uns anos para cá, estou tentando, desesperadamente, superar meu vício em pornografia, sem muito sucesso. Há algumas técnicas que possam ajudar a vencer esse mau hábito teimoso?

—Zain

Uma das coisas que sabemos sobre vícios é que a permanência no mesmo ambiente torna mais difícil parar. Quando ficamos no mesmo espaço onde já apresentamos comportamentos viciantes, as dicas do ambiente aumentam substancialmente nossos desejos —tornando muito difícil resistir aos nossos impulsos. É muito importante que, os viciados em heroína, por exemplo, mudem dos lugares onde vivem e das pessoas com quem se ligam.

Sobre seu vício em pornografia, mudar o ambiente é mais complexo, mas tente remanejar seu telefone e computador de tal forma que você possa ter novos dispositivos que não evoquem memórias de seu comportamento passado. Boa sorte!

Veja o artigo original no Wall Street Journal

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