Dan Ariely

Professor de economia comportamental e psicologia na Universidade Duke (EUA), autor de “Previsivelmente Irracional”.

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Dan Ariely

Ask Ariely: Sobre um marco de vida, processamento de dor e reflexão persistente

Quanto mais interpretamos eventos como algo que fizemos, em vez de algo feito para nós, melhor nossa atitude em relação a eles

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Querido Dan,
Eu sei que você completou 50 anos recentemente. Como você está lidando com esse grande marco?

—Abigail

 

Como você pode imaginar, eu estava bastante apreensivo com a chegada do meu aniversário de 50 anos, mas decidi abraçar a ideia e planejar meu ano com algum tempo extra para refletir.

Hoje escrevo para você enquanto faço uma caminhada de 30 dias pela Trilha Nacional de Israel, que sai de Eilat, cidade do extremo sul de Israel, meu país de nascimento, até a fronteira do Líbano. Eu queria me desconectar da tecnologia e ter mais tempo para pensar sobre o que quero da vida e o que quero fazer a seguir. Hoje, seis dias após o início da trilha, verificando e-mails apenas tarde da noite, já estou em um modo mais relaxado e contemplativo.

Eu projetei também a caminhada para me ajudar a pensar em fases anteriores da minha vida. Então, para cada dia ao longo da trilha, convidei familiares e velhos amigos a se juntarem a mim para caminhar e refletir sobre a nossa trajetória. Acabo de terminar um dia de caminhada com seis amigos da primeira série, e falar sobre nossa história e o quão nossa amizade é profunda me deixou mais calmo do que eu poderia imaginar.

Claro, estou um pouco preocupado com o envelhecimento. Mas até agora, sair da correria do dia-a-dia e abrir espaço para me reconectar com entes queridos está provando ser um antídoto surpreendente para os cinquenta anos.


Querido Dan,

Como as pessoas se recuperam de lesões horríveis, traumas psicológicos e outros eventos que alteram a vida? É o caráter ou as circunstâncias que determinam se as pessoas desmoronam ou se recuperam?

—Lionel

 

Minha sensação, como alguém que sofreu ferimentos muito graves na adolescência, é que a resposta é ambas. A resiliência é certamente uma função do caráter que suporta uma pessoa nessas situações, mas a recuperação tem também muito a ver com as circunstâncias da tragédia.

Uma das lições mais interessantes que aprendemos sobre esse assunto vem de Henry K. Beecher, o falecido médico e especialista em ética. Em seu estudo de 1956 que compara a dor em militares veteranos e civis, Beecher mostrou como é importante entender como as pessoas interpretam o significado de seus ferimentos. Essas interpretações, ele argumentou, podem moldar a maneira como vivenciamos o trauma e a dor.

Beecher descobriu que os veteranos classificaram sua dor com menos intensidade do que os civis com ferimentos semelhantes. Ele descobriu que enquanto 83% dos civis quiseram tomar um narcótico para controlar a dor, apenas 32% dos veteranos optaram por fazer o mesmo.

Essas diferenças não dependiam da gravidade da lesão, mas de como os indivíduos as vivenciavam.

Veteranos tendiam a usar ferimentos como um distintivo de honra e patriotismo; os civis eram mais propensos a ver ferimentos como eventos infelizes do qual eles foram vítimas. Quanto mais interpretamos os eventos como o resultado de algo que fizemos, em vez de algo feito para nós, melhor nossa atitude com relação à eles e, consequentemente nossa recuperação.

Esta lição, embora muito importante para lesões traumáticas, também se aplica aos pequenos solavancos do nosso cotidiano.

Mãos com aliança
Como enfrentar um relacionamento em crise? - Leticia Moreira

Querido Dan,
Meu relacionamento com meu marido está em crise, e eu não consigo parar de pensar nisso –o que está colocando uma pressão adicional em nosso casamento. O que eu posso fazer?
–Rachel

 

Tentar não pensar em algo é uma das melhores maneiras de garantir que você pense sobre isso constantemente. Se você tentar não pensar nos ursos polares pelos próximos dez minutos, você pensará mais sobre eles nesses dez minutos do que nos últimos dez anos.

O mesmo é verdade para o seu relacionamento com seu marido. Em vez de tentar não pensar em seus problemas conjugais, tente refletir sobre as coisas boas em seu relacionamento –depois, tente encontrar atividades em conjunto que fortaleçam seu vínculo. Boa sorte.

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