Dan Ariely

Professor de economia comportamental e psicologia na Universidade Duke (EUA), autor de “Previsivelmente Irracional”.

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Dan Ariely

Ask Ariely: Turnos menores, comunicação assertiva e invasão irritante

Considerar que a ignorância pode ser uma benção pode diminuir a irritação no trabalho

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Querido Dan,
Um grande empregador local acaba de anunciar que está prestes a mudar sua jornada de trabalho padrão de oito para cinco horas diárias. Suponho que, em um turno de 8 horas, muitos funcionários acabam por produzir cerca de duas ou três horas apenas. Minha pergunta é, encolher drasticamente o dia de trabalho não diminuiria ainda mais essas horas produtivas? 
—Bernard

Para pensar sobre isso, vamos dividir nosso dia de trabalho em três tipos: (1) trabalho produtivo, e útil; (2) trabalho repetitivo, que não exige muita concentração, mas deve ser feito; e, claro, (3) perda de tempo, improdutividade.

Qual deve ser, então, o impacto na produtividade considerando esses tipos de trabalho? Se as três horas a menos tivessem impacto somente na perda de tempo, improdutividade (3), a mudança seria certamente para o bem: sabemos gastar o tempo de maneira mais produtiva quando estamos sozinhos. Entretanto, se essas horas impactarem no trabalho repetitivo (2), muitas pessoas se tornarão mais eficientes nessas tarefas, gerando uma queda mínima na produtividade. Mas, temo que essas três horas se darão justamente no tipo de trabalho mais produtivo e útil (1). Isso porque todo mundo gosta da sensação satisfatória de progredir que é facilmente percebida nas tarefas pertencentes ao tipo de trabalho repetitivo (2).

Nós nos sentimos virtuosos após esvaziar nossa caixa de entrada de e-mails ou verificar itens em nossas listas de tarefas. Se o dia de trabalho encolher, preferimos sacrificar o progresso real e mais lento do que renunciar aquele sentimento de gratificação imediata.
 


Agora, se dividirmos uma jornada de trabalho de oito horas entre uma hora de (3) improdutividade, quatro horas de (2) trabalho repetitivo e três horas de trabalho (1) produtivo e útil, eu diria que a redução da jornada iria significar em meia hora a menos de procrastinação (3), uma hora a menos das tarefas simples (2) e uma hora e meia a menos de trabalho útil (1).

Este é apenas um palpite, claro. Se eu administrasse essa empresa que está propondo a redução da jornada, iria começar cortando o dia de trabalho em apenas 30 minutos para avaliar o que isso impactaria na produtividade. Com esse resultado em mãos passaria a propor ajustes.



Querido Dan,
Quando você tem que entregar duas notícias, uma ruim e outra boa, com a qual você deveria começar? Sempre me disseram para dar as más notícias primeiro, mas temo que seu impacto seja tão perturbador que o destinatário não preste atenção às boas notícias que se seguem.
—Galia

Por que escolher apenas esse conjunto restrito de opções? Não há realmente mais nada no universo para compartilhar? Eu começaria com outra boa notícia para começar, como o fato de que erradicamos a varíola e a pólio poderia ser a próxima —reconhecidamente menos relevante, mas inegavelmente boa. Você pode então prensar suas más notícias entre uma enxurrada de boas.
 



Querido Dan,
Enquanto escrevia um documento no meu laptop com um colega, ele ficava apontando para a tela com o dedo. Eu fiquei extremamente incomodado e me arrepiava cada vez que ele encostava seu dedo na minha tela – achei uma invasão de privacidade tremenda. Eu não teria me importado se, ao invés de tocar a tela do meu computador, ele tivesse tocado meu braço, por exemplo. Por que será?
—Kim

Depois de ler sua pergunta, pedi a algumas pessoas próximas para tocarem meu cotovelo e na tela do meu laptop. Senti a mesma irritação. Eu suspeito que é porque uma vez que as pessoas tocam nossas telas de computador, não podemos evitar ver o resíduo bruto que seus dedos deixam, mas não pensamos no óleo e nas células mortas deixadas para trás quando alguém nos cutuca no braço. Considere isso mais uma evidência de que a ignorância pode ser uma benção.

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