Dan Ariely

Professor de economia comportamental e psicologia na Universidade Duke (EUA), autor de “Previsivelmente Irracional”.

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Ask Ariely especial de Natal: é irracional dar presentes?

Para economia comportamental, não; já economistas racionais não conseguiram explicar sua genuína utilidade social

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Muitos de meus amigos economistas têm um problema em dar presentes. Eles veem as festas de final de ano como um festival de irracionalidades e uma orgia de destruição de riquezas.

Os economistas racionais se fixam em uma situação em que, digamos, sua tia Bete compre uma camisa por R$ 200 que você odiou e irá usar somente uma vez em sua vida, quando ela for te fazer uma visita.

O dinheiro suado dela evaporou, e você nem gostou do presente! Um estudo muito citado estimou que até um terço do dinheiro gasto no Natal é desperdiçado, porque quem recebe os presentes atribui um valor menor do que o preço da loja. Assim, os economistas racionais fazem uma sugestão simples: dê dinheiro ou não dê presente algum.

Mas a economia comportamental, que se baseia tanto na psicologia quanto na teoria econômica, aprecia muito mais o presente. A economia comportamental entende melhor por que as pessoas (na minha opinião com razão) não querem abandonar o mistério, a emoção e a alegria de presentear. Nessa visão, presentes não são irracionais. Só que os economistas racionais não conseguiram explicar sua genuína utilidade social. Vamos, então, examinar as razões racionais e irracionais para dar presentes.

Alguns presentes são basicamente trocas econômicas diretas. Um exemplo é comprar um pacote de meias para o sobrinho porque a mãe dele diz que ele precisa. É o tipo de presente menos emocionante, mas também que qualquer economista consegue entender.

Um segundo tipo importante de presente é aquele que tenta criar ou fortalecer uma conexão social. O exemplo clássico é quando alguém nos convida para jantar e trazemos algo para o anfitrião. Não se trata de eficiência econômica. É uma maneira de expressar nossa gratidão e criar um vínculo social.

Outra categoria, da qual gosto muito, é o que chamo de presentes "paternalistas" —coisas que você acha que alguém deveria ter. Gosto de um certo álbum do Green Day ou de um romance de Julian Barnes ou do livro "Previsivelmente Irracional", e acho que você deveria gostar também. Ou acho que aulas de canto ou ioga expandirão seus horizontes —e, portanto, eu as compro para você.

Um presente paternalista ignora as preferências da pessoa que recebe o presente, o que tende a enlouquecer os economistas, mas pode até mudar essas preferências para melhor. Claro, você pode errar dando um presente paternalista, mas isso não significa que você não deva tentar.

Em vez de escolher um livro da lista de desejos da sua irmã na Amazon ou dar a ela o que você acha que ela deveria ler, vá a uma livraria e tente pensar como ela. É um sério investimento no seu relacionamento.

O grande desafio está em entrar na mente da outra pessoa. Pesquisas afirmam que temos dificuldade em ver o mundo de uma perspectiva diferente por estarmos aprisionados nas nossas próprias preferências. Mesmo se sua irmã não gostar do livro, ela poderá ficar feliz em saber do seu esforço em pensar nela e o tempo investido em encontrar algo que ela goste.

A última categoria que gostaria de citar são os presentes que alguém realmente gostaria de ter, mas que se sente culpado em comprar. De acordo com a teoria econômica padrão, se você realmente gostou de algo e pode pagar, irá comprar. Mas não é isso que acontece necessariamente.

Para mim, canetas chiques atendem a essa descrição. Não uso muito canetas, mas ficaria feliz em conseguir uma muito bacana (um Porsche também seria ótimo). Nas defesas dos meus alunos de PhD, peço que todos da banca assinem os formulários necessários com uma caneta cara e depois a presenteio ao recém-titulado. É um bom exemplo, porque é algo que eles provavelmente se sentiriam culpados por comprar para si mesmos, além de ter associações positivas como lembrança do dia em que foram aprovados.

A economia comportamental tem mais uma lição para os presenteadores: se o objetivo é maximizar uma conexão social, não dê presentes perecíveis como flores ou chocolates. É verdade que as pessoas gostam delas e você não quer se impor dando algo mais permanente. Mas o que você está tentando maximizar? Seu objetivo é não se impor ou ser lembrado?

Para uma impressão durável, é melhor dar um vaso ou um quadro. Mesmo que seus amigos não gostem muito, eles pensarão em você com mais frequência (embora talvez não nos termos mais positivos).

Melhor ainda, dê um presente que seja usado de forma intermitente. Com o tempo, um quadro passa despercebido da atenção das pessoas. Já um misturador elétrico, quando usado, é notado.

Eu gosto de comprar fones de ouvido sofisticados para as pessoas. Seu uso intermitente me faz imaginar que toda vez que você os colocar irá pensar em mim. Além disso, eles são um luxo - o tipo de coisa que as pessoas têm dificuldade em comprar para si. O melhor de tudo é que eles são íntimos: quando eu dou fones de ouvido a alguém, consigo pensar que estou sussurrando em seus ouvidos.

E, talvez, quando eles usarem os fones, lembrem-se de você sussurrando ou até beijando seus ouvidos. Alguém já pensou em um beijo seu depois que você os entregou dinheiro?

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