Quais serão os efeitos da tragédia do coronavírus em nossas vidas a longo prazo? Obviamente, há muitas dúvidas sobre o nosso futuro e de nossos comportamentos como consequência dessas mudanças. Ainda não podemos prever o nível de desemprego, o desempenho real da economia, os efeitos no sistema de saúde, o desempenho do mercado de ações e o estresse que isso trará, etc. Nem sequer podemos prever totalmente alguns dos efeitos positivos, como o impacto no nível global de poluição e na vida selvagem.
E, embora eu possa especular sobre as mudanças de comportamento econômico de longo prazo em função dessas incógnitas, prefiro me concentrar aqui em algumas mudanças sobre as quais tenho mais certeza. Falo sobre algo com o qual eu possa ser positivo e sobre algo que cada um de nós pode melhorar em nossas próprias vidas. O foco, portanto, dessa coluna de hoje será hábitos e mudança de hábito.
Como sabemos, por nossa dolorosa experiência pessoal, é muito difícil mudar nossos hábitos. Primeiro, é difícil mudar nossos hábitos porque nos acostumamos a fazer as coisas de um jeito e fazer algo de maneira diferente é mais demorado, cognitivamente exigente e complexo.
Segundo, é difícil mudar nossos hábitos porque, quando nos propomos a seguir nessa jornada de mudança dos nossos comportamentos, geralmente o fazemos enquanto vivemos no mesmo ambiente que vivíamos quando nos comportávamos da maneira antiga —aquela que agora queremos mudar.
Basicamente, tentamos ensinar a um velho pônei um novo truque no antigo estábulo —e isso é apenas mais difícil. Queremos começar a meditar todas as manhãs, mas acordamos na mesma rotina do dia anterior contrária à decisão de mudar nosso hábito matinal.
Queremos começar a fazer jantares em família sem eletrônicos, mas montamos a mesa de jantar no mesmo horário e local em que todo mundo está acostumado a assistir TV enquanto janta. O problema básico é que as sugestões ambientais ao nosso redor continuam nos lembrando sobre nossos antigos comportamentos e tornando mais difícil mudar nossos caminhos.
Eis que chega o coronavírus. Sem dúvida, uma tragédia, mas que também nos fornece as condições certas para estabelecer novos comportamentos e novos hábitos. Como o coronavírus mudou tão dramaticamente nossas rotinas, existe aqui a oportunidade de adotar mais facilmente novos hábitos. E porque a mudança no nosso estilo de vida vai ficar conosco por um tempo (não tenho certeza por quanto tempo, mas vamos assumir que será por volta de dois meses) qualquer novo hábito que iniciarmos em breve terá o tempo necessário para brotar raízes em nossa vida.
Se você sempre quis acordar 30 minutos mais cedo e passar o tempo fazendo ioga ou alongamento; se você sempre quis meditar antes de dormir ou ler mais regularmente, agora é a hora! Não vai ser muito fácil, mas provavelmente será o momento mais fácil da sua vida para começar novos hábitos. E em um mês ou dois, quando voltarmos à rotina regular, o novo hábito terá estabelecido raízes e teremos mais facilidade em mantê-lo.
Esta é a notícia positiva sobre esses tempos difíceis e sobre mudanças de hábitos. O lado negativo é que, se não usarmos esse período para prestar atenção aos nossos costumes e ao que queremos que sejam, poderemos acordar "no dia seguinte" com comportamentos e hábitos muito piores do que já tínhamos. A vida nem sempre nos dá oportunidades de gastar o tempo necessário para mudar nossos hábitos e, quando temos essa oportunidade, é importante usá-la com sabedoria. Boa sorte para todos nós.
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