Gelo e gim

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Das pernas de Marilyn aos surtos de Fitzgerald, a saga do whisky sour

Drinque aparece no filme clássico 'O Pecado Mora ao Lado' e na amizade entre Fitzgerald e Hemingway

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São Paulo

O verão é escaldante em Nova York. Marilyn Monroe, naturalmente, guarda as calcinhas na geladeira. Quem nunca? Quando sai à rua, refresca as pernas na grade de ventilação do metrô, deixando que o vento do subsolo levante seu vestido branco. Seu sorriso de prazer, entre o inocente e o coquete, traz o espectador para dentro da cena, a qual nunca esquecerá.

Quando a vê pela primeira vez, seu pobre vizinho, um editor de livros, sozinho depois que a esposa viaja com o filho, começa a gaguejar. Aquela ondulante aura erótica é muito para ele.

Marilyn Monroe em cena de "O Pecado Mora ao Lado", dirigido por Billy Wilder em 1955
Marilyn Monroe em cena de "O Pecado Mora ao Lado", dirigido por Billy Wilder em 1955 - Divulgação

A cabeça gira como num desenho animado. O pecado veio morar ao lado. O que fazer? Como resistir? O personagem do filme de 1955, vivido por Tom Ewell, quase enlouquece. Suas mãos perdem o controle e, numa cena engraçadíssima, prende o dedo num gargalo de champanhe.

Ewell apela para os coquetéis como um refresco para o calor e o desejo torturante. Sua secretária liga para saber se está se alimentando direito. A resposta: "É claro. Hoje no café da manhã comi um sanduíche de pasta de amendoim e tomei dois whisky sours."

Um remédio para Fitzgerald

Scott Fitzgerald já era um escritor famoso quando conheceu Hemingway em Paris, no Dingo Bar, nos anos 1920. O autor de "O Grande Gatsby" bebia champanhe despreocupadamente.

De repente, seu rosto, belo como o de uma moça, na descrição que Hemingway faz em "Paris é uma Festa", ficou branco como cera, uma máscara da morte. E a cabeça tombou na mesa.

Seus amigos garantiram ao futuro Nobel de literatura que aquilo era normal, e puseram Fitzgerald num táxi. Dias depois, Scott propôs ao jovem Ernest que fossem a Lyon para buscar o carro de sua esposa Zelda, que o largara lá. A viagem teve mil percalços, e o pior deles não foi voltarem a Paris sob chuva no carro sem capô.

Depois de tomarem algumas garrafas de vinho numa estalagem, Fitzgerald, que era hipocondríaco, achou que estava tendo uma congestão pulmonar e ficou extremamente agitado.

Hemingway, mais forte para a bebida, levou-o ao quarto e garantiu que sabia o remédio certo para a doença.

Nada mais era que uísque, limonada e água Perrier. Ou seja, uma versão mais caseira do whisky sour, parecida com o que os antigos marinheiros bebiam contra o escorbuto (com rum no lugar do uísque).

De acordo com "Paris é uma Festa", tomaram uns três cada um, Fitzgerald se acalmou e ainda desceram para beber mais vinho, direto no gargalo. A "febre" passara.

*

Whisky sour

Ingredientes

  • 60 ml de bourbon
  • 30 ml de suco de limão siciliano
  • 15 ml de xarope de açúcar (duas de açúcar para uma de água)
  • 15 ml de clara de ovo
  • 3 gotas de Angostura

Passo a passo
Bata os quatro primeiros ingredientes com gelo numa coqueteleira. Coe para um copo old-fashioned com gelo. Coloque uma fatia de limão siciliano e pingue a Angostura.

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