Gelo e gim

Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Gelo e gim

Cosmopolitan arrebatou Madonna e personagens de 'Sex and the City'

Famosa série que se passa em Nova York terá nova temporada e também deve inspirar o retorno do coquetel

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ao longo de seis temporadas e dois filmes, as quatro amigas de "Sex and the City" mantiveram lealdade ao cosmopolitan (embora nem sempre a fidelidade). Com a notícia da volta da série que fez tanto sucesso entre 1998 e 2004, bartenders devem estar se preparando para o retorno, também, do coquetel rosa/vermelho, tido como o maior clássico contemporâneo da mixologia.

Claro, clássico contemporâneo é um termo que só poderia existir em nossos tempos corridos. Mas é exatamente como os especialistas chamam. E é fácil entender o porquê. A mistura de cranberry, vodca e licor de laranja é de fato especial: embriaga menos que um dry martini e possui (quase) a mesma capacidade de provocar um súbito despertar para o prazer ao primeiro gole —sempre o mais importante, aquele que estabelece o tom da noite.

O curioso é que o cosmopolitan só é mencionado no sétimo episódio. Ele surge sem maiores apresentações, como se sempre tivesse sido o drinque favorito de Carrie Bradshaw e companhia. Depois da primeira decepção com Mr. Big, Carrie vai a um bar e busca consolo no coquetel. O barman parece já conhecer sua preferência e chacoalha imediatamente a coqueteleira.

A partir daí, as quatro são sempre vistas com a taça martini na mão e aquela cor que imediatamente denuncia o drinque. Revendo a série, é difícil não pensar que há algo levemente sexista num coquetel rosa como símbolo do hedonismo feminino. O que é comprovado de maneiras menos líquidas, mais concretas, nas situações vividas pelas personagens, independentes, sim, mas bem pouco feministas.

E existem outros problemas no roteiro que para a sensibilidade atual descem quadrado. A completa falta de diversidade, por exemplo. (Não de bebidas, que vão de A a Z no dicionário alcoólico.)

Talvez isso se explique porque o universo em que elas circulam é o universo yuppie dos anos 1980 e começo dos 1990, que, com algumas exceções, representa a camada wasp (sigla para branco, anglo-saxão e protestante) da população. Com exceção de Miranda, a mais consciente, a impressão é de que elas só se interessam por homens brancos de terno e bem sucedidos. Questões que talvez a volta da série resolva.

​Madonna

Candace Bushnell ainda não escrevia sua coluna sobre sexo para o jornal The New York Observer. Todas as noites, conta ela, saía com o escritor Bret Easton Ellis ("Less than Zero") para beber. Tomavam cosmopolitans até cair.

Outro de seus amigos dessa época de penúria e diversão era o também escritor Jay McInerney ("Bright Lights, Big City"). Assim como Ellis, ele escreveu sobre a vida de sexo, festas e cocaína. Bushnell faria o mesmo com seus textos para o pequeno jornal semanal, só que num tom bem mais leve.

Quando encontrou pela primeira vez o produtor Darren Star, que transformaria sua coluna na saga "Sex and the City", levou-o para beber. Cosmopolitans. A bebida virou marca da série a ponto de produzirem uma taça com o logo. Ao ponto também, de convidarem a atriz Sarah Jessica Parker, praticamente alter ego de Carrie, que por sua vez é alter ego de Candace, a fazer um comercial de cerveja. Heresia! Só os muito jovens não entenderam a piada.

O drinque cosmopolitan
O drinque cosmopolitan - Marcio Shaffer/Divulgação

Como sempre acontece com os grandes coquetéis, existe muita briga em torno de sua criação. Quem levou a fama, ainda que diga que ele não foi o inventor do cosmopolitan, é Dale DeGroff, do Manhattan's Rainbow Room. Em parte porque Madonna foi fotografada em seu bar tomando o drinque. Em parte por conta do lance performático de acender uma casca de laranja sobre a taça. A mágica se faz com um pequeno espirro da essência da fruta.

O mais provável, porém, por razões cronológicas, é que, em seus périplos fashionistas, Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha tomassem a versão que fez sucesso nos bares gays de San Francisco nos anos 1970 e 1980. Ela foi aperfeiçoada por Toby Cechini, com os mesmos ingredientes usados por DeGroff, mas em outra proporção. E sem o lance da chama na casca de laranja. Bem, como dizem, o diabo está nos detalhes.

COSMOPOLITAN

Ingredientes

  • 45 ml de vodca citrus ou neutra
  • 30 ml de licor de laranja
  • 45 ml de suco de cranberry
  • 15 ml de suco de limão

Passo a passo
Bata tocos os ingredientes com gelo na coqueteleira. Coe para uma taça martini previamente gelada. Decore com uma casca de laranja sutilmente flambada.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.