Jack Kerouac viajou várias vezes ao México. Era um lugar de liberdade e inspiração, mas também onde encontrava alguns de seus amigos beatniks, como William Burroughs, que muitas vezes preferiam ficar longe da polícia americana.
Parte de "On the Road" se passa lá, por onde se aventurou, ao lado de Neal Cassady. "Tristessa", contando a história da paixão por uma prostituta mexicana, viciada em morfina, é um de seus melhores livros—certamente o mais triste. E há o ciclo de poemas "Mexican City Blues".
A tequila era uma acompanhante permanente nessas andanças. Servia para manter a mente em êxtase, como dizia. Seu coquetel favorito era a margarita, uma combinação de tequila, Cointreau e suco de limão que data dos anos 1930, quando começou a fazer furor nos EUA. Muitas meninas que nasceram nessa década e na seguinte foram batizadas como o drinque.
Os hippies dos anos 1960 e 1970 acreditavam que o mezcal e a tequila, feitos a partir do agave, planta azul parecida com um penteado punk, tinham propriedades alucinógenas ou místicas, o que acabou por popularizar ainda mais a margarita.
São inúmeras as histórias de sua origem, todas saborosas. Uma delas conta que um barman de Tijuana, no México, teria criado drinque inspirado em certa dançarina dos cassinos locais chamada Margarita Cansino, que mais tarde seria eternizada no filme "Gilda", no qual desce sensualmente uma escadaria, tira as luvas e canta, com malícia, "Put the Blame on Mame, boy". A culpa, afinal, talvez fosse dela.
Roberto Bolaño e os Irmãos Marx
Rita Hayworth não era a única estrela de Hollywood apreciadora da margarita. Um dos lugares em que dançava e cantava, muitas vezes fazendo dupla com o pai, era o hipódromo do Caliente Racetrack, ainda em Tijuana (próximo de Los Angeles) onde grandes figuras da meca do cinema podiam apostar e beber sem receio das leis americanas, que no início do século passado proibiam justamente atitudes tão abjetas. Passavam por lá Charlie Chaplin, os irmãos Marx, Buster Keaton e Jean Harlow.
Numa outra versão, bem mais ao sul, em Acapulco, a socialite Margarita Sames teria inventado o coquetel para seus convidados, que incluíam astros como Lana Turner e John Wayne. Teria também sido ela que adotou o hábito de botar sal na borda do copo, inspirada, por certo, no ritual de tomar tequila pura depois de chupar um pouco de limão com sal.
Ainda há histórias mencionando certo bar mexicano frequentado por Katherine Hepburn e Ava Gardner, mas o fato é que muitas autoridades no assunto insistem que a margarita nada mais é que uma versão do daisy, coquetel americano dos anos 1910, feito com conhaque, em vez de tequila.
A discussão é longa e infrutífera. Melhor seguir o conselho de Kerouac: "Não beba para ficar bêbado; beba para curtir a vida."
O brinde vai para o escritor chileno/mexicano Roberto Bolaño, que sempre inclui doses generosas de tequila e margaritas em seus livros, notadamente "Os Detetives Selvagens" (alguém depois da quarta margarita poderia definir o romance como um "On the Road" mais intelectualizado e mais engraçado).
E também para o cantor e compositor Warren Zevon. Em "Desperados Under Eaves" ele canta, em tradução livre: "Acho que a cigana não mentiu/ vou bebendo todas as margaritas salgadas de Los Angeles/e se a Califórnia afundar no oceano/ Como dizem os místicos e as estatísticas/ Garanto que este hotel vai ficar em pé até eu pagar a conta."
Margarita
Ingredientes
- 50 ml de tequila branca
- 25 ml de Cointreau
- 25 ml de suco de limão
- 5 ml de xarope de agave
Passo a passo
Passe o limão na borda do copo, que pode ser uma taça coupe ou um old-fashioned, e mergulhe-a em sal. Em seguida bata os ingredientes com gelo numa coqueteleira e coe para o copo com gelo. Acrescente uma fatia de limão como guarnição.
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