Gelo e gim

Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

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Ramos gim fizz, famoso em festa americana, é consolo para ausência de Carnaval

Drinque agrada paladares na festa Mardi Gras, de Nova Orleans, e era a preferida de Tennessee Williams

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O Carnaval, em suas vertentes originais, tem cerca de quatro mil anos. Teria começado na Babilônia, como uma dança das hierarquias. Artesãos, obreiros e camponeses assumiam por cinco dias o lugar de sacerdotes e governantes, e vice-versa.

Assim, os primeiros festejavam com banquetes, bebidas e sexo, ao passo que seus habituais opressores eram chicoteados e privados da luxúria. Ah, se a moda pega.

Na Grécia surgiram as folias em homenagem a Dioniso, deus do vinho e do teatro, que também foram adotadas em Roma, com o nome de bacanais. As salutares orgias eram tantas, porém, que o Senado acabou proibindo a farra.

No Brasil não foi muito diferente. No século 16 os portugueses trouxeram o Entrudo, festa medieval de brincadeiras e folguedos. Considerada vulgar pela elite, foi sucedida pelos bailes mascarados com a vinda da Corte Real, em 1808.

A inspiração era Paris, também modelo para as festividades na gaulesa Nova Orleans, um século antes. O Mardi Gras, ou Terça Gorda em francês, com suas paradas e fantasias, tornou-se o grande evento local, perdendo em fama apenas para a exuberância (dionisíaca) do carnaval carioca.

72 braços para um coquetel

E o que se bebe no Mardi Gras? É possível que exista a versão local da Catuaba e do Corote saborizado, mas há também alguns dos clássicos da coquetelaria mundial, como o Ramos gim fizz.

Cremoso e macio, o drinque foi criado em 1888 por Henry Charles Ramos, que o vendia no seu Imperial Cabinet Saloon, em Nova Orleans. O sucesso do "one and only one", como ele o chamava a princípio, foi tanto, que logo precisou contratar 20 bartenders e vigorosos "shaker boys".

Isso porque a clara de ovo e o creme de leite não se misturam bem, e para garantir a cremosidade ideal é preciso chacoalhar a coqueteleira por doze minutos. Haja braço.

A fama do Ramos gim fizz avançou pelos EUA e ajudou a tornar Nova Orleans um ponto turístico obrigatório. No Mardi Gras de 1915, a demanda foi tão grande que Ramos teve de colocar 35 barmen atrás do balcão: quando um se cansava, passava a coqueteleira para o outro. Mesmo assim, dizem, não foi suficiente para atender a multidão.

Era o coquetel favorito do dramaturgo Tennessee Williams, que morou por um tempo na cidade —onde se passa, aliás, a peça "Um Bonde Chamado Desejo".

Outro fã era o governador da Louisiana, Huey P. Long. Conhecido por políticas sociais de distribuição de renda, era figura bastante controversa, admirado por muitos, como o escritor Gore Vidal, e odiado por outros tantos, a ponto de ter sido assassinado, em 1935.

Sua história inspirou o livro "Todos os Homens do Rei", de Robert Penn Warren, que ganhou o prêmio Pulitzer, e serviu de base para dois filmes de mesmo nome —o primeiro deles, dirigido por Robert Rossen, ganhou o Oscar de melhor filme em 1949.

Long gostava tanto do Ramos gim fizz que contratou um barman de Nova Orleans para ir a Nova York ensinar a receita no hotel onde costumava se hospedar.

O dramaturgo americano Tennessee Williams
O dramaturgo americano Tennessee Williams - Reprodução

O momento é ideal para seguir o gosto de Long, Williams e milhares de turistas em Nova Orleans. O Carnaval em casa permite que se dedique mais tempo à bebida, sem precisar recorrer às práticas latinhas de coquetéis prontos.

E ainda dá para brincar com a coqueteleira, que pode ser passada de um em um, transformando a agitação exaustiva numa espécie de dança. Nada como unir o agradável ao agradável.

Ramos gim fizz

Ingredientes
60 ml de gim
15 ml de suco de limão
15 ml de suco de limão-siciliano
20 ml de xarope simples (dois de açúcar para um de água)
5 gotas de água de flor de laranjeira
1 clara de ovo
20 ml de creme de leite half and half (metade leite, metade creme)
Completar com água com gás ou club soda

Passo a passo
Bata os sete primeiros ingredientes até o braço cansar. Ponha gelo e bata de novo. Coe para um copo Collins e complete com água com gás. Decore com uma rodela de limão e um ramo de hortelã.

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