Não se sabe a reação de Charles Chaplin quando um bartender do velho Waldorf-Astoria de Nova York batizou um drinque com seu nome —nem se teve reação alguma. Mas é provável que tenha provado.
Àquela altura, por volta de 1915, ele já era o homem mais famoso do planeta. Japoneses o idolatravam, ganeses lotavam cinemas para vê-lo. Proust copiava-lhe o bigode, Lênin manifestava o desejo de encontrá-lo. Era um herói para os dadaístas e a inspiração para o Gato Félix.
Bonecos, brinquedos e adereços eram feitos à sua imagem e crianças e atores tentavam recriar seus malabarismos cômicos. Galileu estava errado: a Terra girava em torno daquele comediante nascido no sul pobre de Londres, de uma mãe que morreu louca e de um pai que morreu bêbado, ambos artistas do vaudeville.
Chaplin não perdia uma ocasião para mostrar seus inúmeros talentos, aprendidos na rua e em teatros pulguentos. Era todo vontade e representação.
O filósofo Theodor Adorno declarou: "Está toda hora atuando. É difícil falar com ele, não por timidez diante de sua fama, mas por receio de quebrar o feitiço de sua performance". Sempre que tinha um público, que podia incluir de Mary Pickford a Thomas Mann, imitava Caruso, tocava violino, dançava com parceiras invisíveis e contava piadas.
Em seus filmes, especialmente no começo da carreira, fazia muitas vezes o papel do bêbado, coreografando um balé hilário de piruetas, tombos e quase tombos, tendo a bengala como leme e o chapéu coco como vela enfunada.
Um cigarro virava a chave de casa, uma concha de sopa servia como ukelele. Eram paródias das figuras cambaleantes que viu no seu bairro de infância, em tudo semelhante ao universo de "Oliver Twist", livro que leu até a velhice. Imitava sobretudo o pai. Assunto para Freud, que o considerava um gênio.
Milionário da noite para o dia, interpretava ébrios das sarjetas e das mansões. No filme "The Idle Class", de 1921, incorporou ambos, num jogo de troca-troca. Os 32 minutos passariam em brancas nuvens, não fosse um momento antológico.
"Vou dormir em outro quarto até você parar de beber." Presumivelmente abatido, ele pousa o bilhete num aparador, olha para o retrato da mulher e volta as costas para a câmera.
Seu corpo começa a tremer, como se estivesse soluçando. Então ele se vira, impecável em sua fina casaca, e vemos o motivo real de tanto abalo: ele está chacoalhando uma coqueteleira.
Faria aniversário nesta sexta (16). Centro e trinta e dois anos. Começou nos palcos aos cinco, quando a voz da mãe falhou e ele terminou a canção, com passos de dança e mímicas. Aparentemente, não era um bebedor de excessos. Gostava de vinho e cerveja.
Tinha más lembranças da vida etílica em família. Mas estava sempre em festas, restaurantes, bares e iates. E recebia em sua mansão grandes amantes de coquetéis, como Buñuel e Orson Welles. Talvez até fizesse Charlie chaplins para eles.
Não, claro, como no filme "The Rink", de 1916, em que interpreta um garçom atrapalhado. Quando lhe pedem um coquetel, vai à cozinha e começa a prepará-lo, num minueto de garrafas.
Se entusiasma e joga cascas de ovo, café e uma flor na mistura. Na hora de bater o drinque, mexe o corpo inteiro, menos a coqueteleira.
CHARLIE CHAPLIN
Ingredientes
- 30 ml de sloe gin (ou gim)
- 30 ml de brandy de damasco
- 30 ml de suco de limão
Passo a passo
Bater os ingredientes com gelo e coar para uma taça coupe gelada. Enfeitar com uma fatia de damasco.
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