Há muitos e muitos anos, num futuro distante, existiu uma banda chamada The B-52s. A primeira reunião dos cinco fundadores foi num restaurante chinês em Athens, cidade sulista dos Estados Unidos, a mesma do R.E.M. Sem grana para a comida, pediram um coquetel chamado flaming volcano, símbolo perfeito do imaginário que iriam cultivar.
A mistura exótica vem num tigelão pintado com motivos havaianos e a réplica de um vulcão no meio. A boca do vulcão é preenchida com rum e acesa. É sob a hipnótica chama azul que todos bebem juntos, com longos canudinhos, para não chamuscar as pestanas.
O primeiro disco dos B-52s, de 1979, definiu o que seria o lado protoqueer e lúdico da new wave. Cores berrantes e a ambiência kitsch dos filmes-B faziam parte do cardápio. "Planet Claire" abre descrevendo um mundo de atmosfera cor de rosa em que as pessoas não morrem e não têm cabeça.
Diversão eterna e desmiolada, o oposto do que os colegas do outro lado do Atlântico, como Joy Division e The Smiths faziam, um rock denso, em que o vocalista desfia suas misérias existenciais.
Mas o B-52s também se aventurava em experiências sonoras e a sensibilidade camp, em que estilo é tudo. Como definiu Susan Sontag: "A essência do camp é seu gosto pelo artifício e pelo exagero". O curioso é que a banda misturava essa extravagância com um certo minimalismo e elegância déco.
Suas músicas também funcionavam —talvez inconscientemente— como uma paródia bizarra da paranóia da Guerra Fria, que culminaria nos mísseis e escudos espaciais de Ronald Reagan, não por acaso um ator de filmes-B.
É tentador pensar o que fariam com o falo voador de Jeff Bezos e a corrida de bilionários e seus brinquedos desafiadores da gravidade. Com certeza algo digno do manifesto amalucado "Rock Lobster" (Bob Esponja existiria sem essa música?).
Outra constante nas letras surreais do B-52s envolve carros conversíveis, angústias telefônicas e festas de jovens entediados. Algo saído diretamente dos anos 1950, quando os americanos eram abduzidos pela televisão e pelos confortos do espírito lounge, na tentativa de fugir de uma vida burocrática e sem sentido.
O flaming volcano faz parte dessa cultura do escapismo. No universo da mixologia, o desejo coletivo pelo exótico equivale aos bares e coquetéis tiki, inspirados pela exuberância das ilhas do Pacífico, cujo interesse foi despertado na Segunda Guerra.
Da decoração com ícones da mitologia dos nativos às trilhas ondulantes com sons de animais, cortesia dos maestros Les Baxter e Martin Denny, os balcões se viam lotados de taças de formatos orgânicos, poções com sucos e licores tropicais e os guarda-sóis no alto, a defender as bebidas dos perdigotos.
O B-52s bebeu muito dessa cultura retrô, com blend original. O nome da banda não se refere ao avião bombardeiro, mas ao penteado na forma da fuselagem, que as vocalistas Kate Pierson e Cindy Wilson usavam, como antenas para ligações interplanetárias.
O shot B-52, por sua vez, foi uma homenagem ao quinteto —embora haja controvérsias. Faz também um aceno tímido à cultura tiki. Alguns barmen acrescentam rum no topo para criar uma chama azul, como a do flaming volcano. Ou dos foguetes rumo ao futuro antigo, tendo ao fundo o som de um theremin.
B-52
- 10 ml de licor de café
- 10 ml de Baileys
- 10 ml de Grand Marnier
Passo a passo
Em um copo de shot, coloque o licor de café. Depois despeje o Baileys no dorso de uma colher. Repita a operação com o Grand Marnier. Ao final, o drinque deve mostrar as três camadas.
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