Gelo e gim

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A Poitier, com carinho

Ator, que morreu este mês, experimentou drinque criado nas Bahamas, país onde nasceu e cresceu

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Ao pedir respeito na explosiva canção de mesmo nome, Aretha Franklin estava falando da proverbial relação homem-mulher, mas o poder de sua interpretação, associado a seu compromisso com a luta pelos direitos civis, fez com que "Respect" ressoasse com força no movimento feminista e nas manifestações anti-racismo.

Era abril de 1967 e a música ficou duas semanas no topo da parada de sucessos dos EUA. Exatamente na mesma época, Martin Luther King Jr. pronunciava o discurso "Beyond Vietnam" (além do Vietnã), no qual denunciava a tríade formada pelo "racismo, materialismo e militarismo". Um ano depois, ele seria assassinado.

Em agosto, Sidney Poitier, amigo e parceiro de militância de ambos, estrelava "No Calor da Noite", talvez o filme mais marcante daquele ano. Sempre ético, firme e elegante, ele se confundia com o personagem, um detetive em meio a sulistas de alma confederada, prontos para a violência.

A tensão infernal era atenuada por momentos de humor, mas a mensagem estava colocada. Há uma cena em que Poitier devolve o tapa dado por um latifundiário. Era a supremacia branca recebendo o troco em alto e bom som.

Um mês antes, Detroit virou palco de confrontos entre negros e a polícia, que desceu o cacete. Quarenta e três pessoas morreram e mais de mil ficaram feridas. Tudo começou com uma batida policial num bar. Mas o motivo principal eram as péssimas condições de vida da população negra, que sofria com a segregação e o descaso das autoridades.

Como se vê, não foi um ano qualquer. Poitier estrelou dois outros longas de impacto. Em janeiro foi a vez de "Ao Mestre com Carinho", drama britânico em que interpretava um professor numa escola de alunos rebeldes, quase todos brancos. Foi um sucesso estrondoso, carregado pela música-título e pelo carisma do protagonista.

"Adivinhe Quem Vem Para Jantar", lançado em dezembro de 1967, trazia Poitier como um médico extremamente culto e inteligente que se apaixona por uma jovem branca de espírito livre. Os dois decidem se casar, mas é preciso a autorização dos pais. O choque, mal disfarçado pelas famílias, mesmo que liberais, evolui para um debate sobre as consequências de um casamento inter-racial, ainda proibido em 17 estados americanos.

Não parece à toa que Poitier tenha recebido o primeiro Oscar para um ator negro em 1964, mesmo ano em que Luther King recebia o Nobel da Paz. Ambos eram símbolos máximos de dignidade que avançavam corajosamente por um campo minado.

O carisma de Poitier se concentrava muito no olhar reto, inabalável. Parecia se conter, escolhendo as palavras certas. Quando as dizia, era com intensidade e senso de justiça —como King. Econômico e preciso nos gestos, tinha moral. Impunha respeito. E seduzia todos à sua volta.

Aretha, Poitier, King. Poderia dizer Elza Soares, Milton Gonçalves e Marighella. O brinde vai para eles, sempre. Existe um coquetel com o nome do ator morto no último dia 6. Mas prefiro um criado nas Bahamas, país onde Poitier nasceu e cresceu.

O Goombay Smash surgiu por volta de, olha só, 1967. É uma invenção de Miss Emily, dona do singelo bar Blue Bee, hoje atração turística. Abstêmia, ela pedia para outros provarem suas tisanas e infusões secretas, que misturava numa garrafa plástica. Deu certo. Adivinhe quem apareceu para experimentar?

GOOMBAY SMASH

Ingredientes

  • 60 ml de rum envelhecido
  • 20 ml de leite de coco
  • 15 ml de brandy de damasco
  • 45 ml de suco de abacaxi
  • 30 ml de suco de laranja
  • duas espirradas de Angostura

Passo a passo
Bata os ingredientes com gelo e coe para um copo gelado.

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