Foi "culpa do Tom", diz Chico Buarque numa conversa com Luiz Roberto Oliveira. "Ele conhecia um feiticeiro". O bruxo havia tirado da jaca o pé do autor de "Desafinado" e prometia fazer o mesmo por Chico. Aos 52 anos, porém, o cantor não queria um trato definitivo. "Era para dar um tempo." Mas a mandinga passou do ponto. "Sabe que enjoei de bebidas mais fortes? Agora só tomo cervejinha, vinho."
Tom Jobim quebraria o encanto (ou praga) e voltaria a beber uísque na companhia de Vinícius. Ganharia até uma choperia particular, montada em sua casa por uma marca famosa. Quanto ao Chico, fica a dúvida.
Na mesma entrevista, ele fala de um disco que comprou para a irmã Miúcha. Foi a primeira vez que ouviu falar no amigo que não se curou com a reza. "Talvez o primeiro disco que comprei, um 78 rotações. Eu gostava da música, 'Teresa da Praia'".
Vênus carioca, surgida da espuma do mar, "de olhos verdinhos, bastante puxados", aquela Teresa não era de ninguém. Não podia ser do Dick Farney nem do Lúcio Alves, os dois cantores que faziam o duelo na composição de Tom e Billy Blanco, lançada em 1958. Eram terrenos demais.
No diálogo desse conto-canção, que evolui em ondas de um canto suave, descobrem que ela é livre, ora fica com um, ora com outro. Sem drama. Jovialmente, resolvem deixá-la aos beijos do sol. E partem para o início de uma grande amizade.
Eles eram os grandes rivais da época, duas vozes aveludadas que concorriam em charme com Sinatra e Bing Crosby. Os fãs disputavam para ver qual tinha a técnica mais refinada. Só faltou combinar com os próprios crooners, que se davam bem e se admiravam mutuamente.
Lúcio faria 95 anos nesta sexta, 28. Teve papel importante na evolução da bossa nova. Entre aqueles influenciados por ele, estava um jovem chamado João Gilberto.
De acordo com Ruy Castro, assim que "Chega de Saudade" saiu da prensa, o cantor baiano foi ao apartamento do ídolo em busca de aprovação. A audição revelou-se penosa, pois no Snack's Bar, logo abaixo, roqueiros da turma de Erasmo Carlos e Tim Maia ficavam acelerando suas lambretas. A solução encontrada pelo elegante Lúcio foi acender bombas juninas e jogar no meio da fumaça. Deu certo.
O que ele disse? "É isso mesmo, João. Você chegou lá." Era o que bastava. Será que Lúcio frequentava o tal botequim, tão à mão? Provável. Talvez bebesse cerveja com genebra. Ou um tirado de anisete. Em "Mudando de Conversa", dueto com Dóris Monteiro, ele se pergunta onde foi parar "aquele papo furado todo fim de noite", com "tanto chope gelado, confissões à beça".
Onde foi?
E como eram as conversas com Farney? Quatro anos depois do ménage à trois cantado pela dupla, seria lançado um filme que alimentou muito papo furado: "Uma Mulher para Dois". É o belo "Jules et Jim", que, a seu modo, nomeia essa coluna.
O clássico de Truffaut fez 60 anos no último dia 24. Quem viu não esquece de Jeanne Moreau correndo numa ponte, vestida de parisiense típico, com bigodinho pintado e um sorriso maior que o Sena. Deixava tontos os dois amigos que a seguiam, pobres plebeus apaixonados.
Um coquetel é uma obra de afinidades eletivas. Uma bebida se mistura a outra, lenta e sensualmente. Uma terceira se insinua e uma modesta magia se faz. Como música.
NEGRONI SBAGLIATO
Ingredientes
- 30 ml de vermute doce (Jules)
- 30 ml de Campari (Jim)
- 60 ml de champanhe brut (Catherine)
Passo a passo
Colocar os ingredientes num copo com gelo e mexer. Decorar com uma rodela de laranja
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