Coquetel sem música é como gato em cima da árvore: não desce. As ondas sonoras embalam o bom bebedor, coreografam o balé social, expandem a capacidade sensorial. E não pode ser qualquer música. É científico: existe a sonoridade certa para o clima etílico. Ou sonoridades.
De preferência malemolente, no espectro dos ritmos afro-latinos: bolero, mambo, son cubano, cha-cha-cha, bossa nova. Música eletrônica com bpm de médio para baixo também serve, mais próxima da ambient music de Brian Eno que das pistas de dança.
O ideal é manter um equilíbrio entre o sensual e o festivo. Isso durante a maior parte da noite. No final, o clima pode baixar um tom e cair numa melancolia macia, indolência pré-sono, pré-sonhos. Billie Holiday é a escolha óbvia, mas certeira.
Alguma neutralidade é saudável. Como lembra Kingsley Amis, no seu "Everyday Drinking": "Se você não gosta do que está tocando, tem de usar toda sua energia e paciência para ignorar a música; se gosta, vai querer escutá-la e não conversar."
Na verdade, Amis advoga contra toda e qualquer música para acompanhar libações e não a favor da música neutra. Bem, convenhamos, o conceito de neutralidade é complicado. Melhor, talvez, mudar para música inofensiva, relaxante, algo assim.
A chamada lounge music (ou easy-listening, às vezes exotica) vai bem nessa linha. Inventada nos EUA dos anos 1950, em meio à tensão nuclear, tinha o objetivo claro de transportar os ouvintes para outro lugar: praias havaianas, calçadões cariocas, selvas indonésias, templos hindus e até paisagens lunares. Qualquer coisa que suspendesse o medo de virar pó de uma hora para a outra.
Os drinques e bares temáticos eram parte dessa palpável realidade virtual. Uma experiência imersiva. E quanto mais exuberantes, melhor, com a inclusão de ruídos de animais dos trópicos e Mares do Sul. Era a folhagem densa de ritmos e melodias que fazia fundo para as cores calientes dos coquetéis. Por pouco não é a própria definição de kitsch.
Americano de origem sueca, Cal Tjader notabilizou-se pelo balanço lounge-latino. Teve seu ápice na mesma época que Martin Denny e Lex Baxter, outros ases da música que desce fácil, cujos álbuns traziam na capa mulheres sexy num cenário exótico ou acolhedor, com décor espacial e cores de inferninho light. (Eram tempos incorretos.)
Um pouco mais voltado ao jazz, o negócio de Tjader era o vibrafone —instrumento que faz as notas flutuarem no ar, como a cabeça do ouvinte sob efeito do álcool. Morto há 40 anos, mas ainda soando em bares e festinhas hipster desde o revival do lounge nos anos 1990, também tocava piano e bateria, bongô, congas e tímpano. Tem trocentos discos, inclusive várias gravações de música brasileira.
Filho de um casal de artistas do vaudeville, foi estrela infantil do sapateado, tendo participado de alguns filmes. Tudo a ver. Foi na percussão telúrica dos pés que aprendeu a comandar os moods da noite.
O mambo surgiu em Cuba como derivação mais sincopada do danzón. Tjader era o único não-latino a figurar no panteão do gênero, que tinha Pérez Prado como farol. A palavra tem origem no haitiano para "sacerdotisa do vodu", mas também no iorubá para "falar". Em gíria pode ser "tudo bem". Está mambo? É a pergunta.
BACARDI COCKTAIL
Ingredientes
- 60 ml de rum
- 10 ml de suco de limão
- 7 ml de grenadine
- 5 ml de xarope de açúcar (opcional)
Passo a passo
Bata os ingredientes com gelo numa coqueteleira e coe para uma taça Nick & Nora.
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