Daniela Lima

É editora do Painel.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Daniela Lima
Descrição de chapéu Eleições 2018

Bolsonaro resolveu testar os limites da fidelidade de seu eleitorado

Candidato quer se colocar como única alternativa para mudar as coisas no país

Especialistas em marketing político que acompanham a eleição presidencial à distância veem motivo, razão e circunstância para a mudança de tom que Jair Bolsonaro (PSL) empregou ao seu discurso nos últimos dias.

No Acre, o deputado federal falou em "fuzilar a petralhada"; no Distrito Federal, chutou um Pixuleco; ao comentar o incêndio no Museu Nacional, fugiu do figurino emocional que os outros candidatos vestiram: "Já pegou fogo. Quer que eu faça o quê?".

Bolsonaro resolveu testar os limites da fidelidade de seu eleitorado e parece ter concluído que o discurso radical, sem papas na língua, feito com o fígado, encontra ainda mais guarida entre os que, irritados com a política, enxergam nele alternativa a "tudo isso que está aí"

Publicitários que atuam na campanha eleitoral começam a desconfiar que o presidenciável do PSL cristalizou o voto de uma fatia significativa do eleitorado e decidiu falar apenas com esse grupo, para garantir seu ingresso no segundo turno.

É o que acha, por exemplo, a equipe que faz a campanha de Ciro Gomes (PDT). Os conselheiros do pedetista acreditam que, hoje, apenas uma vaga está em jogo na segunda etapa da disputa —e que a bola está no campo da centro-esquerda.

O único adversário que tem arsenal e interesse em fazer frente a Bolsonaro neste momento ainda tenta achar a embocadura de um ataque efetivo.

Geraldo Alckmin (PSDB), que diferentemente dos outros candidatos considerados competitivos, tem tempo de televisão suficiente para se apresentar e também atacar o capitão reformado do Exército, ainda não sabe se conseguiu dar um tiro que cause avarias significativas na armadura de Bolsonaro.

Nesses seis dias de horário eleitoral, o tucano tem investido num segmento que já é refratário ao candidato do PSL: as mulheres. Estreou a campanha na TV e no rádio com comerciais fortes. Um deles mostra o deputado xingando e empurrando uma adversária política.

O outro aponta o dedo à retórica armamentista de Bolsonaro ao filmar, em câmera lenta, uma bala prestes a acertar a cabeça de uma criança.

Quem trabalha com marketing eleitoral elogia a plasticidade e a edição dos dois comerciais. Mas os tempos são tão estranhos que, ainda assim, apontam fragilidades. Ao avaliar as peças, três publicitários disseram que o fato de a campanha tucana ter colocado uma criança negra no quadro final do filme sobre armas pode ter diminuído o impacto da peça entre bolsonaristas.

Outro porém: Maria do Rosário (PT-RS), a deputada que foi xingada de vagabunda por Bolsonaro, é uma das principais antagonistas que ele tem no cenário político. A cena, portanto, poderia não chocar a militância dele, que passou os últimos anos ouvindo-o despejar as mais diversas aleivosias à petista.

As peças da publicidade tucana, portanto, seriam eficazes para afastar de vez quem já não votaria em Bolsonaro, mas podem não surtir tanto efeito entre os que abraçaram a retórica dele.

Aliados de Alckmin vão esperar para ver o resultado nas pesquisas. Acham que com menos de dez dias de publicidade na TV não é possível medir a resiliência de Bolsonaro. Avisam que o arsenal apenas começou a circular e que há chumbo mais grosso a ser disparado.

Conhecido pelo comedimento, pelas declarações insossas, frias e calculadas, Alckmin também subiu o tom. Nesta quarta (5), declarou: "Não há ninguém tão despreparado quanto o Bolsonaro. Acho que o Brasil retrocederia, iríamos para um caos. Farei o possível para evitar que isso aconteça. Tenho responsabilidade para com meu país". É guerra.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.