Não foi difícil encontrar Roque, já que era o presidente da associação de moradores da aldeia hippie. Disse que andava entre eles, mas nunca mexeu com "esse negócio de... artesanato". 

Sua teoria sobre o surgimento do artesanato é de que os hippies gringos que trouxeram a ideologia eram filhinhos de papai que não precisavam trabalhar para sobreviver, e o artesanato foi a forma encontrada pelos hippies brasileiros para se manter. Confirmou que Janis Joplin namorou um pescador que não está mais lá e que ela morava na Casa do Sol. Nos apontou onde ficava, mas a casa não existe mais, então na prática apenas nos mostrou um espaço vazio. Mas foi sua maneira de ajudar. 

Agradecemos e partimos em busca de Luís --segundo Roque, o artista local mais bem-sucedido. O possível último hippie que buscávamos.

Na casa de Luís, fomos recebidos a tiros imaginários de pistolas de Lego cor-de-rosa, disparados por crianças cabeludas. De dentro, Luís aos berros convocava a todos para ver o pôr do sol. As crianças, incentivadas por ele, davam saltos "em homenagem ao sol". Talvez uma delas se chamasse Alfa-1. Entramos. 

A casa, grande e bonita por fora, por dentro era o caos total, cheia de crianças, cães e gatos correndo para todos os lados. O segundo andar era composto por tábuas mal posicionadas com colchões e artesanatos espalhados, e tudo parecia prestes a desabar. 

Luís nos recebeu bem, mas insistiu muito na venda de suas obras. Mostrou afobadamente várias camisas horrorosas pintadas à mão e poemas que eram na verdade toques de sabedoria impressos em cartões postais. Ficou bastante decepcionado quando comprei apenas um cartão-poema. Aparentemente eu demonstrava precisar de muito mais sabedoria.

O ramo de atuação de Luís definitivamente está entre o artista e o pedinte, mas apesar disso e de seu pouco talento para a organização de tudo o que o cerca, a forma com que demonstrou sua sede capitalista sem nenhum constrangimento nos fez descartá-lo como um hippie. 

Entretanto, quando estávamos saindo da casa, fomos convidados (pressionados) a participar de um "luau com roda de violão". Quando respondemos educadamente que "tentaríamos voltar", ele pediu para trazermos um violão, já que não havia nenhum ali. (Continua)

Colaborou Cynthia Bonacossa