Daniel Furlan

Ator, comediante e roteirista, é um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o programa "Choque de Cultura".

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Daniel Furlan
Descrição de chapéu

Apelidos que engrandecem

As explicações para apelidos incríveis eram sempre decepcionantes

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Estando num país onde tivemos um presidente Lula e uma rainha Xuxa, ambos consagrados por apelidos, não é de se espantar que um tratamento parecido seja dado a outra camada da nossa realeza, os jogadores de futebol. Paradoxalmente, o máximo de formalidade que nos permitimos é chamá-los pelo primeiro nome.

Na infância era comum ter que ligar para um colega de sala e não saber por qual nome pedir para falar a quem atendia o telefone, sendo obrigado a, com a maior educação possível, pedir para chamarem, por gentileza, Frangobol, Bromélia, Chiclete, Azeite ou Cabelo de Velha. 

Fora que as explicações para apelidos incríveis eram invariavelmente decepcionantes: “Alguém jogou um chiclete que grudou no meu cabelo e passei a ser chamado de chiclete”; “Eu andava com um tênis verde e passei a ser chamado de azeite” etc.

Mas o fato é que existe uma força, uma espécie de rebeldia, seja contra os nomes bíblicos, seja contra os criativos, que nos leva a rebatizar as pessoas. E no futebol, como de costume, mais do que em qualquer outro setor, isso parece funcionar harmoniosamente. Ainda que (sintomaticamente?) nos últimos tempos não tenhamos tido tantos jogadores de destaque com apelidos, a escalação da nossa seleção na Copa América sob a ótica gringa do último nome seria no mínimo bem estranha: Becker, Alves, Silva, Corrêa e Kasmirsky; Casemiro, Melo e Coutinho; Jesus, Firmino e Soares. Técnico: Bacchi. Acredito que a Venezuela respeitaria menos ainda.

A maior dupla do mundo de todos os tempos, Bebeto & Romário (na minha opinião acima de Lennon & McCartney), imporia tanto respeito com os sobrenomes de seus documentos, “Oliveira & Faria”? “De Lima Fenômeno” faria mais gols que qualquer outro pela seleção masculina? Conseguimos enxergar “Coimbra” escrito eternizado acima do 10 na camisa do clube de maior torcida do mundo? E o maior de todos? Será que “Do Nascimento” seria realmente o rei do futebol que, ao lado de “Manuel dos Santos” (aquele de pernas tortas), nunca perdeu uma partida pelo Brasil? 

Talvez seja melhor continuar tratando nossa realeza com a intimidade que não nos deram, mas os apelidos Garrincha, Pelé, Zico e Bebeto nos permitem, deixando que o resto do mundo continue respeitando demais seus Lioneis Messis e Robertos Baggios.

Ilustração Daniel Furlan - 8/7
Cynthia Bonacossa

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