A seleção brasileira feminina foi eliminada da Copa do Mundo no domingo (23) –em um jogo de alto nível contra a França– e, portanto, futebol não importa mais.
Se parar para pensar no assunto, é fácil dizer que muita coisa faltou ao time. Preparo técnico, planejamento tático, investimento em renovação. De forma mais ampla e estrutural, ainda faltam maior disposição financeira de clubes e federações, marketing, adequações de calendário, salários mais justos. Falta muito incentivo.
Mas, eliminada a seleção, futebol já não importa. Importa, sim, o legado que esse futebol deixou na histórica Copa do Mundo deste ano. Porque a sensação que fica é que a velocidade em que o esporte feminino caminha é muito maior do que qualquer resistência que ele venha encontrando pela frente. E não tem eliminação que seja capaz de parar isso.
Porque, apesar de todas as faltas, o que este Mundial teve foi realmente o mais importante.
Teve discurso por igualdade, batom em campo e a ocupação de espaços que tradicionalmente seriam de marcas esportivas –como as laterais da chuteira de Marta–, por mensagens feministas.
Teve o recado claro de que é preciso um pagamento mais justo e semelhante ao que é praticado pelo esporte masculino ou então as empresas ficarão, sim, fora do show.
Teve o entendimento de que o futebol feminino ainda tem muito a dizer, subiu o seu tom de voz e não o baixará mais.
Teve empresa interrompendo o expediente para incentivar os funcionários a torcer pela seleção nacional, teve parceria na publicidade e teve o mercado enxergando que o esporte feminino tem potencial gigante para vender e faturar.
Teve jogo na televisão aberta e comentarista mulher emocionada em rede nacional. E teve muita audiência, porque, sim, tem gente interessada em torcer por atletas que pouco ganham, mas muito lutam vestindo a camisa da seleção brasileira.
Teve estádio lotado e festa nas ruas. Teve também torcedor homem, porque futebol masculino não é coisa de homem e futebol feminino não é de mulher. O futebol é de todo o mundo que o ama.
Teve álbum de figurinha, teve uniforme exclusivo e inédito, teve exposição em museu, teve até esta coluna (que ainda segue até o fim do Mundial)! Teve o aprendizado de que o futebol feminino foi proibido durante 40 anos e que há menos tempo do que isso tenta se reerguer e evoluir, correndo contra o tempo.
Teve resistência e o entendimento de que preconceito e discriminação não serão mais tolerados. Teve a exigência do básico: respeito.
Teve recorde de gols e uma atleta mulher se transformando na maior goleadora da história dos Mundiais. E teve também a eliminação do Brasil nas oitavas de final. Mas, como já disse, futebol não importa mais.
Porque essa Copa despertou o mais essencial dos sentimentos no torcedor: o orgulho em apoiar e defender seu time do coração. Teve elogio, teve solidariedade, teve acolhimento, teve reconhecimento. E nada disso se perderá.
Talvez a seleção feminina brasileira não consiga ser campeã de uma Copa do Mundo até que os problemas ligados ao futebol se resolvam. Até que verdadeiramente ela tenha acesso a estrutura, a investimento e a uma comissão técnica à altura de seus talentos.
Mas o mundo está mudando e, por isso, pelo menos por enquanto, o futebol já não importa tanto.
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