Débora Miranda

Jornalista, trabalhou no Agora e no G1. Escreve sobre esporte no UOL.

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Descrição de chapéu Copa do Mundo Feminina

O silêncio de Rapinoe

Atacante americana sabe que sua luta vai além dos campos de futebol

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Toca o hino dos EUA, e a jogadora de futebol Megan Rapinoe está ajoelhada no campo. Cercada pelas companheiras de equipe, todas em pé e com a mão direita no peito, ela encara a bandeira com seriedade e respeito. O ano é 2016, e o ato demonstra apoio ao protesto iniciado pelo jogador de futebol americano Colin Kaepernick, contra a violência policial e o racismo. Controverso, recebeu apoio de diversos atletas americanos.

Três anos depois, Megan já não se ajoelha antes das partidas. Em plena Copa do Mundo, manifesta-se em silêncio. Não canta o hino. Também não coloca a mão no coração, sobre o brasão da seleção nacional que representa. Nem os EUA nem tampouco o mundo estão prontos para que Megan se renda.

Em campo, ela divide a artilharia do Mundial com a também americana Alex Morgan e com a inglesa Ellen White, cada uma com cinco gols —aliás, os dois países se enfrentam nesta terça (2), às 16h, por uma vaga na final da Copa. A seleção americana é a maior campeã do torneio, tendo conquistado 3 títulos dos 7 já disputados. Eliminou a França, dona da casa, nas quartas de final, em um dos jogos mais esperados deste Mundial e é, como sempre foi, candidata ao tetra.

A atacante Megan Rapinoe celebra o seu gol em jogo pela Copa do Mundo feminina que os Estados Unidos derrotaram a Espanha por 2 a 1
A atacante Megan Rapinoe celebra o seu gol em jogo pela Copa do Mundo feminina que os Estados Unidos derrotou a Espanha por 2 a 1 - Lionel Bonaventure/AFP

Mas o mundo é muito maior do que um campo de futebol, e Megan sabe disso. “Eu tenho que fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Todos nós temos”, escreveu a jogadora em um artigo publicado em 2016 no site The Players’ Tribune. Não se trata de corrigir as discrepâncias do esporte. É sobre eliminar as injustiças do mundo —e que, naturalmente, se reproduzem no futebol.

E, por isso, a atleta americana enfrenta batalhas que vão além do gramado e abraça as mais diversas causas humanitárias. Ela e a namorada, a estrela do basquete Sue Bird, defendem os direitos da comunidade LGBT e falam com frequência sobre a importância de viver a homossexualidade às claras.

Além disso, Megan se posiciona politicamente e já disse que não vai à Casa Branca se encontrar com Donald Trump caso vença a Copa. Luta pela inclusão, contra o racismo e abraçou até mesmo a batalha contra as drogas —é notório o caso de seu irmão, preso há anos.

Apenas três meses antes de esta Copa do Mundo ter início, a seleção americana entrou com um processo contra a federação nacional por discriminação de gênero. As demandas não eram apenas com relação a salário, mas também a espaços de jogos, frequência, condições de treinamento, tratamento médico que recebem e até mesmo a como viajam para as partidas.

Nos EUA, o futebol é bastante popular entre as mulheres e praticado desde a escola. O time feminino é visto como herói e mobiliza multidões. Com tanta visibilidade, as jogadoras viraram referência na luta por equidade no esporte. As jogadoras da WNBA, liga feminina de basquete, pediram ajuda a elas sobre a melhor forma de discutir questões envolvendo treinos e viagens.

A seleção canadense buscou aconselhamento sobre como conseguir incluir coberturas de maternidade em seus contratos. A seleção de hóquei pediu socorro ao ser enrolada pela federação em coisas básicas, como uma conta em rede social e estratégias de marketing.

Tratam-se de demandas do esporte, mas comuns ao universo profissional de maior parte das mulheres inseridas no mercado de trabalho, em qualquer que seja a área de atuação. São exigências básicas e necessárias para tantas mulheres no mundo inteiro. Mais do que tudo, são pedidos por igualdade e humanidade. E é por tudo isso que, enquanto toca o hino dos Estados Unidos, Megan ainda permanece em silêncio.

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