Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Isenção de IR não deveria substituir políticas públicas eficazes

Em vez de criar mais uma isenção fiscal para um grupo específico, como os atletas olímpicos, governo deveria focar em reformar políticas e infraestruturas esportivas

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A medida provisória publicada na quinta-feira (8) pelo governo federal, que isenta do Imposto de Renda os prêmios em dinheiro concedidos a atletas e paratletas olímpicos, parece uma resposta às críticas e memes que ironizavam a taxação desses prêmios e associavam a cobrança ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A pressão aumentou quando o deputado Luiz Lima (PL-RJ) apresentou o projeto de lei 3.029/2024, propondo a isenção da taxa. Hoje, a Receita Federal aplica uma alíquota de 27,5% sobre rendimentos acima de R$ 4.664,68, incluindo os prêmios pagos pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e pelo CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro).

Fotografia mostra em detalhe o tronco de uma pessoa sentada com as mãos à frente do corpo segurando três medalhas. Duas são amareladas e uma prateada. A pessoa é negra e usa uma camiseta azul escura e uma calça esportiva amarela.
Medalhas olímpicas de Paris-2024 nas mãos da ginasta brasileira Rebeca Andrade - Leah Millis - 7.ago.2024/Reuters

Em vez de criar mais uma isenção fiscal para um grupo específico, como os atletas olímpicos, o governo deveria focar em reformar políticas e infraestruturas esportivas já existentes. Por exemplo, apenas 18% dos municípios brasileiros possuem infraestrutura esportiva adequada, segundo a ONG Atletas pelo Brasil.

Embora o apoio aos nossos atletas seja importante, a criação de isenções fiscais privilegiadas contribui para um sistema tributário cada vez mais complexo e desigual, resultando em distorções econômicas. Muitos pagam altos impostos, enquanto outros, sejam empresas ou profissionais, obtêm regimes especiais para pagar menos.

Além disso, o governo deveria promover uma gestão fiscal responsável e justa, beneficiando a sociedade como um todo. A situação fiscal é delicada, com a dívida pública projetada para atingir 77,3% do PIB em 2024, segundo o IFI.

Esse nível é preocupante para um país de renda média que já enfrenta desafios estruturais, como uma tributação complicada, baixa poupança interna e uma economia relativamente fechada. Se a dívida pública continuar a crescer sem controle, as taxas de juros aumentarão, dificultando o crescimento econômico e prejudicando a população.

A criação de isenções específicas não apenas reduz a arrecadação, mas também enfraquece a credibilidade da política fiscal do governo. A longo prazo, essa prática é insustentável. Melhorar a eficiência dos gastos públicos é crucial. Apesar do volume significativo de recursos destinados às despesas públicas, esses investimentos não se refletem em serviços de qualidade para a população. Setores como educação, saúde e infraestrutura ainda apresentam grandes lacunas, que só serão resolvidas com uma alocação mais eficaz dos recursos.

Por exemplo, o gasto elevado com o Poder Judiciário no Brasil, que é quatro vezes maior que a média internacional, não se traduz em um sistema de justiça mais eficiente. Além disso, os supersalários e benefícios excessivos na elite do setor público aumentam a desigualdade e geram uma crise de legitimidade. Esses são exemplos claros de ineficiências que poderiam ser corrigidas com uma gestão fiscal mais equilibrada.

Controlar a dívida pública é essencial para garantir a sustentabilidade das finanças e criar um ambiente econômico que favoreça o crescimento e a geração de empregos. Se a dívida continuar a crescer de modo imprevisível, as taxas de juros subirão para atrair investidores dispostos a financiar um governo com baixa credibilidade, encarecendo o crédito e dificultando o desenvolvimento econômico.

Embora a vontade de pagar menos impostos seja natural, é crucial que a sociedade também se empenhe em fiscalizar os gastos públicos e exigir transparência. Essa vigilância é fundamental para garantir uma gestão eficiente dos recursos, beneficiando a todos, e não apenas grupos específicos que capturam o orçamento por meio de lobby. Com uma trajetória da dívida mais estável e previsível, será possível discutir cortes de impostos que sejam justos e abrangentes, ao invés de isenções para poucos.

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