Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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O grande dilema do TikTok e Instagram: usuários prefeririam um mundo sem eles?

Muitos se sentem compelidos a permanecer para evitar emoções como a sensação de exclusão e isolamento

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Por que mesmo usuários frequentes de redes sociais continuam utilizando essas plataformas intensamente, apesar de acreditarem que seriam mais felizes se elas não existissem? Essa pergunta intrigante foi o foco do estudo conduzido por Leonardo Bursztyn e outros pesquisadores, que analisou o impacto de redes sociais como TikTok e Instagram no bem-estar.

A metodologia do estudo foi baseada em experimentos com mais de mil estudantes universitários. Estes foram questionados sobre sua disposição a aceitar dinheiro para desativar suas contas de TikTok e Instagram por quatro semanas, mantendo os outros usuários ainda ativos.

Logo da rede social TikTok é visto em celular - Antonin Utz/AFP

Em seguida, perguntaram o valor que esses estudantes exigiriam para desativar suas contas, caso todos os alunos de suas universidades também desativassem as deles. Por fim, os participantes precisavam escolher entre um cenário onde todos desativassem suas contas, incluindo eles mesmos, ou onde todos mantivessem suas contas ativas.

Essa abordagem permitiu que os pesquisadores não apenas medissem o valor que os usuários atribuem ao uso individual das redes sociais, mas também considerassem os efeitos de rede e as externalidades negativas para os não-usuários. Essas externalidades referem-se aos impactos indiretos do consumo de um produto pelos outros. No caso das redes sociais, podem gerar sentimentos de exclusão ou o popular "medo de ficar de fora" (FOMO).

Os resultados revelam um cenário paradoxal. Muitos usuários demonstraram uma disposição significativa a aceitar dinheiro para desativar suas contas quando apenas eles deixavam de usar as redes. No entanto, essa disposição mudou drasticamente quando foi proposta a ideia de todos os colegas também saírem das redes.

Cerca de 60% dos usuários do TikTok e 46% dos usuários do Instagram manifestaram preferência por viver em um mundo onde essas plataformas simplesmente não existissem. Isso indica que, mesmo continuando a usar as redes sociais, esses usuários, em teoria, prefeririam um mundo onde a tentação de usar essas plataformas fosse removida.

Esse comportamento foi denominado pelos pesquisadores como "armadilha coletiva". Nessa armadilha, os usuários sentem-se compelidos a continuar utilizando a plataforma para evitar emoções como a sensação de exclusão e isolamento, mesmo que isso comprometa seu bem-estar. Esse fenômeno desafia o tradicional argumento de preferência revelada, que sugere que o uso contínuo de um produto indica satisfação e benefício. No contexto das redes sociais, essa lógica não se aplica claramente devido às externalidades negativas significativas que afetam tanto usuários quanto não-usuários.

Os achados deste estudo também destacam a necessidade de uma maior conscientização sobre o impacto das redes sociais. Campanhas educativas que abordem os efeitos do FOMO e das comparações sociais podem ajudar os usuários a entenderem os verdadeiros impactos do seu uso excessivo. Além disso, transparência sobre o impacto das redes sociais na saúde mental deve ser promovida, incentivando práticas de uso mais saudáveis e equilibradas. Essas ações não dependem exclusivamente de políticas governamentais; os próprios usuários podem adotar práticas que minimizem os impactos negativos em suas vidas.

O uso de redes sociais não é intrinsecamente ruim, mas seu consumo deve ser feito de forma consciente e equilibrada. Momentos de desconexão podem trazer benefícios significativos, como maior clareza mental, redução do estresse e melhoria da qualidade do sono.

Assim, cabe a cada indivíduo avaliar suas próprias rotinas e definir limites para o uso dessas plataformas, priorizando atividades que promovam seu bem-estar. No final das contas, a responsabilidade pela saúde mental e emocional dos usuários também passa por uma autorreflexão sobre os limites e propósitos do uso das redes sociais. O que não dá para aceitar é um poderoso sozinho canetar o fim de uma rede, afetando a vida de todos.

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