Deirdre Nansen McCloskey

Economista, é professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago

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Deirdre Nansen McCloskey
Descrição de chapéu América Latina Rússia

Mais caráter, não leis, Constituições e regras

Se Brasil ou EUA aprenderam algo com os recentes homens perversos no comando, é que o bom governo vem de boas pessoas

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O Chile está reescrevendo sua Constituição. A esquerda está no comando por enquanto. O partido do vamos-tentar-o-socialismo-mais-uma-vez está popular não porque o "neoliberalismo" tenha fracassado, mas porque as pessoas esqueceram que ele deu certo. A tragédia do Chile é que a liberdade tinha sido imposta não pela opinião popular, mas pela coerção do Estado. Então agora o Chile terá mais coerção.

E terá novas regras escritas. O mundo seria maravilhoso se as Constituições, ou as leis promulgadas sob elas e depois impostas pela coação, resolvessem nossos problemas. Pelo simples fato de rabiscar leis e depois chamar a polícia, os pobres sairiam enriquecidos.

Mas é como a mágica que uma criança pequena pensa que pode fazer ao dizer "morra, Mamãe!" quando ela se recusa a lhe dar um doce. Os adultos infantilizados adoram mágicos, como Trump e Bolsonaro. E também adoram a coerção, desde que os coagidos sejam outros.

Mas por duas razões que qualquer adulto de verdade conhece, as leis chilenas impostas pela coação, como a lei que proíbe os salários baixos, não vão funcionar.

Para começar, a fórmula dos advogados raramente funciona —aquela fórmula segundo a qual "se X é ruim, aprovemos uma lei contra X". Consulte "EUA, Guerra às Drogas", por exemplo. Ou o embargo americano a Cuba, em que todos que não sejam os EUA têm relações comerciais com Cuba.

Em segundo lugar, as leis, Constituições e instituições não funcionam a não ser que as pessoas sejam boas. As virtudes formam a base de uma sociedade boa. A antiga URSS redigiu Constituições em três ocasiões, em 1924, 1936 e 1977. São textos belos. Consulte-os na Wikipédia. O texto escrito garante todos os direitos liberais. Uma imprensa livre, que é o primeiro alvo dos tiranos. Liberdade de reunião, o segundo alvo. O Estado russo jamais vai envenenar suas cuecas com novichok, afirma o texto.

Mas é claro que a dita Rússia sempre foi coagida por bandidos sem ética e juízes sem integridade. Independentemente das leis escritas. Tanto em inglês quanto em português, a expressão que designa textos que não produzem efeito é "letra morta". E pessoas mortas.

O criador de nossa Constituição americana, James Madison, escreveu muito sabiamente que "se os homens fossem anjos, governo algum seria necessário". Mas, se seu país ou o meu aprenderam alguma coisa com nossos experimentos recentes com homens perversos no comando, o bom governo vem de boas pessoas. Não de preceitos escritos e polícia.

É algo que também o Chile vai aprender.



Tradução de Clara Allain

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