Denise Fraga

É atriz e autora de "Travessuras de Mãe" (ed. Globo) e "Retrato Falado" (ed. Globo).

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Há que celebrar

Minha avó gostava de festa. Minha mãe gosta de festa. Eu gosto de festa.

Quando penso em dar uma festa, meu coração se anima. Muitas vezes, no meio da lista de convidados e acepipes, tenho vontade de desistir diante da trabalheira da empreitada.
Respiro, lembro das últimas festas que dei, penso na minha avó e na minha mãe em seus mistos de alegria e tensão, e acabo seguindo em frente.

Há que comemorar, há que manter os bolos, as velas, os brindes.

Há que passar adiante o "Parabéns pra Você", mesmo que no meio da canção tudo pareça engraçado e sem sentido. Vale a pena. Nunca me arrependi de dar uma festa. No mínimo, fico feliz de ver meus vários afetos misturados em minha casa, conversando entre si, se juntando em tranças que retornam ao novelo do meu coração.

Não sei direito o porquê, mas tenho especial prazer em ver o namorado da filha da minha amiga em papo animado com a minha sogra, por exemplo. Improváveis misturas humanas a partir de mim. Foi assim que meu pai fez amizade com a mãe do segundo marido de minha mãe.

Tuta era uma senhora sacudida. Sempre de salto alto, se maquiava muito, punha flores no cabelo, fazia discursos, cantava e tocava piano.

Tinha passado a maior parte da vida longe da família e foi resgatada por minha mãe, que, inconformada e antes tarde do que nunca, decidiu presentear seu marido com o reencontro emocionado com a mãe desgarrada. Tuta passou, então, a frequentar as festas da família.

Conviveu com o filho, a nova nora e os parentes que pouco conhecia durante algum tempo até que Fernando se foi. Viúva, minha mãe herdou de seu amado a mãe excêntrica, que continuou a fazer seus discursos, a tocar e a cantar nas festas lá de casa até seus 98.

Um tempo depois da morte de Fernando, meu pai voltou a frequentar as festas. Também afeito à cantoria, se juntou a Tuta nas canções e até declamavam poesias. Em uma festa de aniversário que ela promoveu em seu pequeno apartamento na Tijuca, minha mãe deu de cara com uma cena curiosa: os dois sozinhos na sala. Tuta ao piano e meu pai já exibindo pela janela sua linda voz de tenor. Numa manobra do destino, meu pai virou grande amigo da mãe do segundo marido de minha mãe.

A vida faz um bom crochê. As festas ajudam. Há que celebrar.

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