Drauzio Varella

Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Drauzio Varella

Pandemia não está acabando e coronavírus continua matando pessoas

Temos que fazer as máscaras cirúrgicas e as N95 chegarem às mãos dos que mais precisam urgentemente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A variante delta, que se espalha pelo mundo, está entre nós. Vai competir com a gama, originada em Manaus. Impossível prever qual delas prevalecerá, já que a seleção natural é imprevisível, como nos ensinaram Charles Darwin e Alfred Wallace.

Não há estudos comparativos entre as duas. A gama leva a vantagem da primazia no país; a delta, a da carga viral elevada que consegue atingir nas vias aéreas superiores. Estudos realizados na Inglaterra mostraram que a concentração do vírus delta nas mucosas nasais chega a ser mil vezes superior à da variante alfa que surgiu no Reino Unido no último trimestre do ano passado.

Uma coisa é certa, entretanto: em todos os países em que chegou uma variante mais contagiosa, houve aumento do número de casos, portanto de óbitos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a delta deslocou rapidamente as demais variantes que circulavam no país, duplicando o número de casos e de mortes, nas duas últimas semanas.

É pouco provável que fenômeno semelhante não se repita no Brasil, à medida que essa variante encontrar uma população em que apenas 22% estão completamente imunizados.

Como agir para evitar as consequências trágicas de mais uma onda, que parece inexorável?

Desenho mostra uma onda gigante se formando
Publicada em 11 de agosto de 2021 - Líbero

Sejamos realistas: um ano e meio de epidemia é tempo demais. Todos estão cansados do isolamento, a economia enfrenta uma crise com quase 15 milhões de desempregados e cerca de 35 milhões na informalidade, gente que se ficar isolada engrossa a multidão dos que passam fome.

Por outro lado, como já tivemos mais de 3 mil mortes diárias, a média deste início de agosto pouco abaixo de mil transmite a sensação falsa de que as vacinas já controlaram a epidemia.

No ritmo lento em que caminha a vacinação, no entanto, se não pudermos contar com o isolamento, o que sobra? A lavagem das mãos e as máscaras.

De abril do ano passado —quando ficou comprovado que as máscaras ofereciam proteção—, até março deste ano, quando caiu o general que sabe lá por que interesses ocupava o Ministério da Saúde, o governo federal não se dignou a conduzir uma campanha sequer para explicar e reforçar a necessidade de usar máscaras.

Durante todo o ano de 2020, a única campanha nacional para incentivar o uso de máscara, no rádio e na TV, foi realizada pelo Todos pela Saúde, grupo que administrou a doação de R$ 1,2 bilhão feita pelo Itaú-Unibanco.

É o preço que pagamos por viver num país em que o presidente insiste até hoje em expor a cara descoberta e em dar exemplos diários de como os brasileiros devem fazer para disseminar o vírus e provocar mais mortes.

Esse coronavírus já provou que sofre mutações capazes de torná-lo mais contagioso. Enquanto existirem no mundo populações não vacinadas, variedades novas surgirão uma atrás da outra, pondo em risco de morte quem não foi imunizado com as doses necessárias e em risco de desenvolver
uma doença de intensidade mais leve mesmo os vacinados, mas que pode deixar sequelas físicas prolongadas.

Já que não há como contar com o atual Ministério da Saúde, despreparado e subserviente, as secretarias estaduais e municipais devem assumir a liderança na promoção do uso de máscaras. Num esforço conjunto com a iniciativa privada, temos que repetir exaustivamente pelos meios de comunicação de massa, que a máscara é a única saída.

As máscaras de pano atenderam às necessidades, enquanto eram a única solução para um país dependente das que chegavam da China. Elas ajudaram a conter a disseminação do vírus, mas agora dispomos de opções mais eficazes. Temos que fazer as máscaras cirúrgicas e as N95 chegarem às mãos dos que mais precisam: os brasileiros mais pobres que utilizam transportes públicos.

Incrível que ainda não tenhamos providenciado essa distribuição nas estações de trem, de metrô e nos pontos de ônibus das áreas periféricas e centrais das cidades brasileiras.

Não é possível que faltem recursos financeiros para uma intervenção tão barata. Quantas máscaras podem ser compradas com o dinheiro gasto para cobrir os custos de uma só diária, de alguém intubado numa UTI do SUS?

A manter a tendência atual, o número de óbitos no Brasil ultrapassará o dos Estados Unidos.

Ostentaremos humilhados esse recorde mundial. Não podemos deixar que a sociedade viva a fantasia de que a epidemia está em seus dias finais. Não está, o vírus ficará por aqui.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.