O alerta, que soa em tom de ameaça, foi feito pelo presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Thomas Bach, apontando para problemas financeiros e administrativos da Aiba (Associação Internacional de Boxe), a entidade responsável pelo boxe olímpico.
Bach declarou que o COI está preparado para tomar decisões drásticas caso a Aiba não apresente em abril um relatório esclarecedor sobre a sua governança.
O pedido não é novo, mas sim uma repetição provocada por outro relatório, que não respondeu adequadamente ao solicitado pelo órgão olímpico.
A manifestação de Bach foi dura, exigindo resposta da Aiba, lembrando que o COI tem o direito de rever a inclusão do boxe nos Jogos da Juventude, em Buenos Aires, ainda este ano, e na Olimpíada de Tóquio-2020.
Pode ser apenas bravata? Há essa possibilidade, sim. O puxão de orelha parece ter mais relação com a crise enfrentada pela Aiba nos últimos tempos. Uma espécie de alerta do tipo “estamos de olho”. Por quê?
O boxe é um esporte que, pela sua natureza, costuma ter arbitragens contestadas em muitas de suas lutas. A introdução de máquinas para definir a pontuação nos combates não resolveu o problema. Uma novidade é que o resultado passa a ser por maioria de cinco julgadores, enquanto antes valia a pontuação de apenas três.
Essa fragilidade, por exemplo, permitiu que uma suspeita aleatória, revelada pouco antes da Olimpíada do Rio em reportagem do jornal britânico “The Guardian”, criasse um cenário com risco de manipulação de resultados. A tese foi refutada por técnicos e atletas de vários países. Durante os Jogos, no entanto, as reclamações despontaram.
Para calar os insatisfeitos, a Aiba afastou árbitros e juízes que estiveram naquela competição e abriu investigação que durou cinco meses. Sem encontrar evidências de fraudes, o procedimento foi encerrado e os suspeitos reintegrados. A entidade tratou ainda de aprimorar seus controles, adotando sistema eletrônico para a escala da arbitragem.
As novidades na parte técnica das lutas não impediram a pressão sobre o taiwanês Ching-Kuo Wu, que renunciou em novembro passado, após tentativas de defesa em tribunais da Suíça. Ele estava na presidência da Aiba havia 11 anos. Nesse período, o órgão acumulou dívidas, polêmicas sobre incompetência administrativa e insinuações sobre indícios de corrupção.
Wu foi um dos candidatos à presidência do COI, em 2013, quando o alemão Bach chegou ao poder. Ele também integrou a comissão de avaliação da Rio-2016.
Em janeiro último, os membros da Aiba escolheram o uzbeque GafurRakhimov para presidir interinamente a organização. A folha corrida do indicado, no entanto, não parece convincente de que ele tem potencial para realizar boa gestão. O currículo de Rakhimov está limpo, sem processos, mas o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos registra que ele tem ligações com o crime organizado na Ásia.
Não por pouca coisa, mas por roubo, extorsão, lavagem de dinheiro e suborno. Personagem semelhante a vários da Lava Jato, a vergonha do Brasil. Na mídia consta até que ele comandaria uma organização denominada “Os Ladrões”.
Não é sabido até que ponto essas informações são verdadeiras. Diz-se que onde há fumaça tem fogo.
Derrubar esse ditado é façanha das brabas. Será que um pito do COI basta para o boxe ser nocauteado pelos próprios punhos?
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