Os Jogos Olímpicos de Inverno chegaram ao final com saldo positivo. Tanto sob o aspecto das relações internacionais, com as duas Coreias desfilando juntas e até competindo com uma equipe unificada, como no plano esportivo, com disputas de elevado nível técnico.
Neste campo, inclusive, foi acertada a decisão do COI (Comitê Olímpico Internacional), que vetou a participação da Rússia no evento em consequência de punição por uso escandaloso de doping, com participação estatal, apurado nos últimos anos.
Revelou-se justa também a decisão do comitê de permitir a inscrição de atletas russos com ficha virgem de doping. Eles atuaram sob bandeira neutra e sem direito ao hino nacional do país em cerimônia de premiação. Dessa forma, atletas “limpos” não foram prejudicados.
Houve expectativa de que o COI levantaria a punição à Rússia até o encerramento dos Jogos. Essa intenção, caso tenha existido de fato, talvez tenha sido abortada por uma simples razão: dois representantes daquele país tiveram testes positivos em antidoping durante o evento. Não pegaria bem.
Em contrapartida, parece que a punição aos russos está com os dias contados. O país foi fortemente castigado e pressionado pela comunidade internacional desde a revelação do escândalo há três anos. É tempo de um basta.
Esta Olimpíada não fugiu à regra de grandes eventos esportivos. Provocou gastos de pelo menos US$ 13 bilhões (R$ 42,14 bilhões), com prejuízo de US$ 279 milhões (R$ 904,4 milhões).
Não escapou de questionamentos sobre legado, sofreu ataque cibernético no início dos Jogos, enfrentou uma crise de norovirus (surto de que causa diarreia, vômito e febre).
O tema mais relevante dos Jogos, sem dúvida, foi a trégua nas conturbadas relações das Coreias, tecnicamente em guerra desde a década de 50, quando o conflito bélico entre elas sofreu interrupção com um armistício.
Esta Olimpíada ganhou relevância para os dois países pelas disputas terem ocorrido num dos lados, em PyeongChang, na Coreia do Sul, que abriu as portas para a delegação do Norte. Esta, por sua vez, empenhou-se para que os planos dessem certo. Por isso, o evento acabou chamado de “Jogos da Paz”.
A Coreia do Norte não ganhou medalha, mas isso já era esperado. Sua representação é fraca em esportes na neve. Há quatro anos, em Sochi, ficou de fora, nem sequer conseguiu classificar qualquer atleta. Seu histórico é débil na competição, com apenas duas medalhas de prata, em 1964 e em 1992. A equipe anfitriã arrebatou 17 medalhas, cinco delas de ouro.
A equipe unificada das Coreias, no hóquei feminino, perdeu todos as partidas, marcou apenas dois tentos e sofreu 28, mas virou atração, bem como as 200 animadoras de torcida norte-coreanas.
O espírito de paz que reinou em PyeongChang pode se dissipar, embora tenha surgido especulações sobre chances de as Coreias, em parceria, organizarem os Jogos Asiáticos de Inverno de 2021.
Por que a distensão dificilmente vai perdurar? Certamente, não tanto pelos desacertos entre as Coreias, mas pelo impasse causado por disparos de mísseis e testes nucleares realizados pela Coreia do Norte, que os Estados Unidos denunciam como graves ameaças à segurança mundial.
Uma dúvida mais concreta desponta no horizonte. As Coreias estarão afinadas para competir unidas na Olimpíada de Verão, em Tóquio-2020?
Antes dessa parceria, outras questões poderão dificultar acordos. O Japão, a sede olímpica, endossa o questionamento norte-americano. Acumula ainda a insatisfação pela crise deflagrada na segunda parte dos anos 70, não solucionada e não esclarecida completamente, sobre o sequestro de japoneses por norte-coreanos.
O COI, por sua vez, deve defender os preceitos do movimento olímpico internacional em busca da neutralidade política para que a Coreia do Norte esteja na capital japonesa. O tempo é curto e intensa a pressão sobre os norte-coreanos. Muita água vai passar embaixo dessa ponte.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.