Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Lima-2019 enfrenta crise que faz lembrar da Rio-2016

Como no Brasil, peruanos enfrentam uma troca na presidência do país

Martin Vizcarra, novo presidente do Peru. Ele assumiu após a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski
Martin Vizcarra, novo presidente do Peru. Ele assumiu após a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski - Luka Gonzales - 23.mar.2018

Como ocorreu pouco tempo antes da Olimpíada do Rio, em 2016, os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, programados para julho do ano que vem, também enfrentam uma troca na presidência do país.

Apesar do incômodo, os organizadores do evento poliesportivo já manifestaram que nada vai mudar. O compromisso internacional tem força para pressionar o governo a manter o combinado.

O Pan deverá reunir na capital peruana cerca de 6.700 atletas, de 41 comitês olímpicos nacionais das Américas e do Caribe, nas disputas de 39 modalidades esportivas. Vários dos eventos do programa servirão como classificatórios para a Olimpíada de Tóquio-2020. Logo depois do Pan será disputado o Parapan nas mesmas instalações.

No Brasil, após a cassação do mandato de Dilma Rousseff, o vice Michel Temer assumiu a Presidência. O anúncio da presença dele na abertura dos Jogos foi recebida pelos torcedores com vaias no Maracanã. No Peru, pressionado por denúncias de corrupção, Pedro Pablo Kuczynski preferiu renunciar. Apeou de seu posto na semana passada e foi rendido pelo vice Martín Vizcarra.

Tudo indica que Vizcarra estará no comando do país na abertura do Pan. Outra coincidência nos episódios que tumultuaram o cotidiano dos dois países foi o protagonismo da empreiteira brasileira Odebrecht nos escândalos de corrupção. Kuczynski estaria envolvido na maracutaia. O novo mandatário exortou os peruanos a não perderem a esperança. Um velho recurso na política, que explora a esperança de a situação do país mudar para melhor.

O Pan de Lima esteve sob risco de inviabilização mais de uma vez, por dificuldades financeiras e atraso nos preparativos, desde que a cidade foi escolhida como sede dos Jogos em 2013, superando na disputa Santiago (Chile), La Punta (Argentina) e Ciudad Bolivar (Venezuela).

Chuvas e inundações em março do ano passado resultaram em pressão para que a capital peruana abdicasse de abrigar o evento. Kuczynski sempre defendeu os Jogos. Vizcarra, integrante do governo peruano —ex-ministro dos Transportes e Comunicações e vice-presidente acompanhou as crises de perto. Portanto, conhece o tamanho da causa.

Os preparativos para os Jogos foram intensificados no último ano, quando a avaliação do andamento dos trabalhos indicava atraso no plano de obras, embora restasse tempo suficiente, porém apertado, para a sua conclusão. O projeto mais complicado é o da construção da Vila Pan-Americana, um complexo de 1.120 apartamentos, divididos em sete edifícios de 20 andares, local que hospedará os atletas.

A expectativa sobre a realização do Pan no Peru não foge à regra da tradicional cartilha de organização de grandes eventos esportivos, repleta de promessas como a de maior evento do ramo e legados espetaculares para a população local. Pura fantasia, com ou sem crises presidenciais. Pior com elas.

ESCÂNDALOS

Com o Pan-2007, a Copa do Mundo-2014 e a Olimpíada-2016, competições de prestígio mundial realizadas no Brasil, o esporte nacional ganhou visibilidade e facilitou uma escalada de injeções de verbas no setor, tanto públicas como privadas. Paralelamente, caminharam e aumentaram os desmandos, vários dos quais tiveram desfecho nos últimos dias.

Um sonho de fadas que virou pesadelo. O dominó de irregularidades já revelou denúncias de grande repercussão internacional como o da Olimpíada e o dos cartolas do futebol.

Brotam registros de crimes em todos os cantos do país. O ex-presidente da Confederação Brasileira de Taekwondo, Carlos Fernandes, impedido de concorrer de novo ao cargo no ano passado por decisão judicial de 2016, acaba de ser condenado a seis anos e quatro meses de prisão por um juiz federal do Rio de Janeiro. Ele poderá recorrer em liberdade.

No domingo (25), foi a vez do presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, José Antonio Martins Fernandes, o Toninho, renunciar ao cargo. Ele enfrenta denúncias de desvio de verbas governamentais mediante notas frias.

Nesta segunda (26), a Confederação Brasileira de Basquete decidiu em assembléia, por unanimidade, punir seu ex-presidente Carlos Nunes com a proibição pelo prazo de 10 anos de ocupar e se eleger para qualquer cargo na entidade ou em suas afiliadas. A decisão foi tomada com base em auditoria que revelou um passivo até o final de 2017 de R$ 38 milhões e uma série de irregularidades.

Cartolas e confederações do handebol, vôlei e natação, entre outras, também já viraram manchetes por motivos espalhafatosos de corrupção. O tsunami de devaneios nos esportes parece sem fim. Mas a malha de investigações também.

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