Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Descrição de chapéu Copa do Mundo

Futebol feminino é alternativa para ressaca da Copa

Últimos resultados mostram que as mulheres caminham a passos firmes nos gramados

Marta durante o jogo da seleção brasileira de futebol feminino contra o Canada, no Itaquerão, em 2016 - Zanone Fraissat/Folhapress

Um aspecto relevante, e saudável, do Mundial da Rússia é a abordagem do futebol por mulheres nos meios de comunicação do Brasil. Em relação aos grandes eventos anteriores, cresceu muito a presença delas nas funções de comentaristas de TV, colunistas e repórteres de jornais, entre outras atividades. Essa inclusão tem sido destacada, incentivada e elogiada em textos e comentários na mídia.

Apesar disso, nada ou quase nada se falou sobre a prática propriamente dita de futebol por mulheres. Quem lembra que a seleção brasileira feminina foi a primeira equipe nacional a ter conquistado vaga para a Olimpíada de Tóquio-2020?

Isso ocorreu três meses atrás com a conquista pela sétima vez da Copa América, no Chile. Uma campanha invicta, de sete vitórias. O título garantiu também a vaga do Brasil para o próximo Mundial feminino, ano que vem, na França, e ainda para o Pan no Peru.

Mas não foi só com a seleção principal que as brasileiras se deram bem. Classificaram-se em outras competições regionais no primeiro trimestre para Mundiais de mais duas categorias, a sub-17 e a sub-20, respectivamente, no Uruguai e na França.

A seleção contou na Copa América com a experiência de Marta, Formiga e Cristiane, uma garantia para a estabilidade da equipe. O técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão, espera contar com elas até os Jogos no Japão. No Chile, o técnico mesclou veteranas e novatas. Apesar disso, a maioria das jogadoras que integraram o time vieram de clubes do exterior, onde atuam.

A meia Formiga, 40, ainda não definiu se continua na seleção. Ela tinha anunciado seu afastamento do time havia dois anos, mas voltou atrás, convencida pelo técnico. A atacante Marta, 34, eleita a melhor do mundo pela Fifa em cinco temporadas, segue sem falar em aposentadoria. Joga nos EUA, onde no último final de semana marcou um golaço pela sua equipe, o Orlando Pride, diante do Washington Spirit, pela liga feminina daquele país.

Os últimos resultados mostram que o futebol feminino do Brasil caminha a passos firmes nos gramados, desfrutando de reconhecimento no mercado externo. Tanto que esse prestígio proporciona uma robusta agenda de amistosos internacionais.

Neste segundo semestre, a sub-17 vai disputar um torneio na África do Sul, com Rússia, China, Índia e seleção local. A sub-20 viaja no fim deste mês para a França. A principal participará nos EUA do Torneio das Nações —com norte-americanas, australianas e japonesas— e é convidada para confrontos fora de casa até o final do ano contra Canadá, Inglaterra e França.

O técnico Dorival Bueno, ex-jogador de futebol no interior paulista, trabalha com os times sub, enquanto Vadão comanda a equipe de ponta. As ações estão integradas com o objetivo de garantir renovação na seleção principal em busca de um novo patamar. As seleções femininas estão praticamente em preparação contínua, aperfeiçoando o nível técnico nesses torneios oficiais e jogos amistosos.

Nas atividades domésticas, embora ainda um pouco engatinhando, há campeonatos nacionais nas séries A1 e A2 com 16 equipes em cada um. A tendência aponta para a chance de aumento do investimento no setor —e, consequentemente, da concorrência—, uma vez que a partir do próximo ano a legislação da Conmebol (confederação sul-americana) passa a exigir que todos os clubes interessados na Copa Libertadores também tenham equipes femininas.

O Brasil participa do futebol feminino da Olimpíada desde que o esporte foi introduzido no evento em Atlanta-1996. Nas seis edições, conquistou duas medalhas de prata (2004 e 2008) e chegou em quarto lugar três vezes (1996, 2000 e 2016). No Rio, há dois anos, Brasil contra Suécia nas semifinais atraiu 70 mil torcedores ao Maracanã.

No Mundial, o Brasil participou de todos os torneios desde o inaugural em 1991. Ganhou bronze em 1999 e evoluiu para uma prata em 2007, quando perdeu na final para a Alemanha.

Com três medalhas de ouro, uma de prata e três de bronze os EUA se destacam na Copa do Mundo feminina. A Alemanha, com dois títulos, a Noruega e o Japão, com um cada, foram outros vencedores. Canadá, França, Suécia, Austrália e China são outras forças de ponta.

Com o Brasil fora da Copa da Rússia, após a eliminação da seleção do Tite, o olhar dos brasileiros vai continuar voltado para o Mundial pelo prazer de ver o bom futebol dos outros. Os mais empolgados podem até escolher uma nova bandeira para torcer, decisão que dificilmente deixará de ser amarga.

A seleção de Neymar e cia. voltará a se reunir em setembro para cumprir contrato de amistoso nos EUA e, no ano que vem, para a Copa América no Brasil.

Nesse período, a seleção feminina vai ser uma opção interessante para esportistas do Brasil, que até pouco tempo atrás era chamado de “o país do futebol”. Será que esse bordão ainda vale?

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