Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Edgard Alves

Corrida presidencial aumenta suspense para o esporte brasileiro

Cartolagem pode arregaçar as mangas, pois terá muito trabalho nas reivindicações

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A direção do COB (Comitê Olímpico do Brasil) alerta que haverá mobilização da área esportiva para protestar, caso o novo presidente do país não dispense uma atenção adequada ao setor, que enfrenta dificuldades pela falta de verbas, depois da boa ventura dos grandes eventos internacionais dos últimos anos.

Como é sabido, Jair Bolsonaro, do PSL, e Fernando Haddad, do PT, disputam a Presidência do país na corrida eleitoral, com o primeiro em vantagem nas pesquisas de intenção de votos. A julgar pelas manifestações dos dois candidatos, divulgadas pela mídia em geral, a cartolagem esportiva pode arregaçar as mangas, pois vai ter muito trabalho nas reivindicações.

Bolsonaro ainda não revelou seu plano sobre os esportes, apenas mencionou a possibilidade de uma fusão de ministérios, com o setor esportivo ficando sem uma pasta exclusiva. A ideia seria uma fusão de Esporte, Cultura e Turismo.

Paulo Wanderley Teixeira, presidente do COB, em entrevista no Rio de Janeiro
Paulo Wanderley Teixeira, presidente do COB, em entrevista no Rio de Janeiro - Ricardo Borges - 13.out.17/Folhapress

Além disso, como o rival petista, ele parece propenso a buscar uma integração do esporte com o programa Saúde da Família. Alto rendimento esportivo não desperta entusiasmo em nenhum deles. As prioridades do futuro governante, qualquer que seja o vitorioso, são outras, mais importantes e fundamentais para a população, como a recuperação no mercado de trabalho, apenas uma da série de tarefas que mostra o tamanho do desafio.

Haddad, no entanto, tem uma proposta, mas nada parece concreto nela. Busca, por exemplo, dar atenção ao futebol que “por fatores históricos e culturais, expressa a própria identidade nacional”. Ufa! Outra meta: “Criação do Sistema Único do Esporte para definir o papel da União, estados, municípios e entidades esportivas nas ofertas de esportes para otimizar a utilização de recursos públicos’’.

Fala também em “retomar investimentos em infraestrutura de equipamentos esportivos, principalmente quadras escolares” e ampliar a participação popular em arenas da Rio-2016.

Os esportes embolsaram fartas verbas públicas e privadas nos últimos anos, marcados no Brasil por eventos de porte como Pan-2007, Copa das Confederações-2013, Copa do Mundo-2014 e Olimpíada-2016. E tem a Copa América em meados do ano que vem.

Para Paulo Wanderley Teixeira, que assumiu a presidência do COB há um ano, aniversário comemorado na semana passada, a situação atual é preocupante. Ano que vem a agenda prevê o Pan de Lima, no Peru, que antecede a Olimpíada-2020, em Tóquio. São duas temporadas que exigirão esforços e robustas verbas.

Por isso é que Paulo Wanderley, cuja gestão vai até 2020, lançou o alerta da mobilização. O COB não tem poupado sacrifícios diante da crise. Ele era vice de Carlos Arthur Nuzman, que foi preso (depois solto) e renunciou após duas décadas na direção da entidade, pressionado pelas suspeitas de ter participado da compra de votos para a escolha do Rio como sede da Olimpíada.

Nuzman refuta as acusações, mas essa crise ganhou corpo com a suspensão aplicada pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) ao COB —foi levantada em fevereiro—, que havia bloqueado repasse de R$ 7 milhões.

Em um ano, a nova direção do COB providenciou mudança estatutária —garantindo maior representatividade dos atletas nas decisões da entidade e tornando mais acessível o processo eleitoral para presidente e vice. Reduziu 15% do número de funcionários, 30% da folha de pagamentos e 30% do valor dos contratos firmados pelo comitê. Arregimentou novos diretores. Também vai driblar o aluguel que paga pelo prédio da sede na Barra da Tijuca, transferindo a entidade para  o Parque Aquático Maria Lenk, administrado pelo próprio COB. Está tudo acertado para 2020. As atenções ficarão concentradas até lá apenas no Pan e Olimpíada.

O COB toca suas atividades com verbas federais da Lei Piva, que arrecada com as loterias. Patrocínios completam as receitas, mas eles não vieram nesta temporada difícil da economia e de incertezas com as eleições. O presidente procurou adiantar contatos com patrocinadores nacionais e internacionais sobre contratos para 2019. As respostas deverão chegar no início do ano.

Mesmo considerando esse quadro, o desdobramento da crise que castiga o país coloca um ponto de interrogação no incentivo ao setor.  O esporte talvez tenha de comer pão que o diabo amassou por um bom tempo.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.