Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Talento e trabalho levam Hugo Calderano a ano mágico

Mesa-tenista brasileiro chegou à sexta posição do ranking mundial

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A campanha internacional do mesa-tenista brasileiro Hugo Calderano, 22, nesta temporada registrou resultados preciosos. Para um atleta que em 2009 não tinha o seu nome entre os 1.000 do ranking mundial, entrar na lista dos 10 mais bem posicionados e atingir o sexto posto foi demais.

Não dependeu apenas de luz momentânea ou da sorte numa competição. Valeu o talento nato e a busca pelo aprimoramento na última década. Em 2009, ele era o 1.285 do ranking. A ascensão foi constante, sem interrupção, ano a ano: 625, 429, 258, 178, 57, 52, 21, 17 e, finalmente, 6. Plantou e colheu o tempo todo. 

A consagração chegou nesta temporada, fruto de um trabalho planejado. Para o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, Alaor Azevedo, a alavanca desse projeto foi a conquista pelo Brasil em 2009 do direito de organizar a Olimpíada sete anos depois. Os investimentos durante os preparativos impulsionaram as modalidades, disse. A crise econômica, hoje, torna mais difícil a execução de projetos esportivos.

A exaltação de feitos extraordinários  é algo que não tem medida certa nem limites no mundo dos esportes. Ela pode ter o respaldo de resultados, de números estatísticos e de avaliação profissional técnica e física.

Marketing e aspectos psicológicos também ajudam a florear as interpretações. Não é o caso. A paixão pela modalidade, por sua vez, pode moldar o cenário. O cidadão vibra com certo esporte e ali tudo vira coisa fantástica ou de outro mundo.

Enfim, todos os detalhes têm valores que variam de acordo com o olhar do interessado, do profissional, do especialista ou do mero fã. Os pitacos deste, normalmente depreciados como “coisa de torcedor”, costumam provocar polêmica, mas dificilmente ganham força. Às vezes provocam confusão.

Calderano foi o mais destacado atleta brasileiro neste ano. Essa avaliação não é motivada pela empolgação. Apenas não dá para ignorar, mesmo o tênis de mesa não aparecendo na TV e pouco, quase nada, no noticiário esportivo. 

Pessoas gabaritadas da modalidade, no entanto, não têm receio de apontá-lo como um fenômeno do esporte. “É nosso ídolo”, declara  Ubiraci Rodrigues da Costa, 73, conhecido como Biriba, outro fora de série, ídolo do tênis de mesa do Brasil no final da década de 1950 e início da de 1960.

No Mundial de 1961, em Pequim, Biriba realizou a proeza de superar  Young Kuo-Tuan, o primeiro campeão mundial chinês e que era apontado como favorito ao bi pelos donos da casa.

Aquela foi uma experiência que pode ser comparada com a desfrutada por Calderano na semana passada, quando ele  bateu o chinês Fan Zhendong, número 1 do ranking mundial e eleito o melhor jogador da temporada, por 4 a 2, nas quartas de final do ITTF Grand Finals.

A competição reuniu os 16 destaques do circuito mundial, em Incheon, na Coreia do Sul. O brasileiro acabou eliminado na sequência por outro fenômeno, o prodígio japonês Tomokazu Harimoto, de apenas 15 anos, quinto do ranking.

Vitórias contra estrelas mundiais do tênis de mesa não são rotineiras na carreira de Calderano, mas também não surpreendem mais. No primeiro semestre, ele ganhou do alemão Timo Boll, então número 1 do ranking.

Ao entrar para a lista dos “dez mais”, chamou a atenção, especialmente por ser o primeiro latino-americano a conseguir tal feito na história do esporte. Aqui, neste espaço, por exemplo, a escalada não passou despercebida.

Natural do Rio, Calderano seguiu para São Caetano do Sul com a proposta de acelerar sua performance no tênis de mesa, mas logo precisou de um centro mais evoluído da modalidade. Ochsenhausen, na Alemanha, foi o destino. O técnico francês Jean-René Mounie, que trabalhava no Brasil com a seleção nacional, o acompanhou. A cidade alemã é a base da dupla.

A vitória contra o chinês Fan Zhendong trouxe empolgação até para Mounie. Segundo ele, o brasileiro dominou o saque, a recepção (especialmente o jogo curto) e até as trocas de bolas. “Ele nunca tinha alcançado esse nível”, disse.

No Brasil, Mounie já acompanhava Calderano, mas outros técnicos integravam o grupo de trabalho. Um deles, o cubano naturalizado brasileiro Francisco Arado de Alma, aponta ser o mesatenista um atleta diferenciado, com talento incrível e foco fora do comum no esporte.

Admiradores não faltam, mesmo outro especialista como Hugo Hoyama, com 15 medalhas em Pans (10 de ouro, 1 de prata e 4 de bronze), que hoje é técnico permanente da seleção nacional feminina.

Para ele, Calderano ainda vai evoluir. Tem talento, dedicação, inteligência e parece que nasceu com experiência. Hoyama foi o primeiro a alcançar o nono lugar, a melhor classificação brasileira em Olimpíada, em Atlanta-1996. Calderano igualou a marca na Rio-2016.

A posição alcançada por Calderano no tênis de mesa mundial não deixa dúvidas das possibilidades de sucesso na carreira. O atleta virou sinônimo de bons resultados. Mas o patamar agora é outro, muito mais difícil. Esperamos que ele esteja apenas entrando no desafio, não tendo ainda chegado ao centro. Quando uma pessoa entra no mato, depois do meio ela está saindo.
 

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