Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

COI demora para apontar riscos de maratona em Tóquio

Organização decidiu mudar local de disputa para Sapporo, a 800 km da capital, por altas temperaturas

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Depois de intensos debates, as provas da maratona e da marcha atlética da Olimpíada-2020 acabaram transferidas de Tóquio para Sapporo, distante 800 km da capital japonesa. 

O COI (Comitê Olímpico Internacional) defendeu sua proposta de mudança de local com a justificativa de resguardar a saúde dos atletas, uma prioridade, considerando as altas temperaturas previstas para o período dos Jogos, de 24 de julho a 9 de agosto.

Improvável, no entanto, que mudança de tal porte no ano pré-olímpico não esteja contemplando outros impulsos. Afinal, Tóquio conquistou em setembro de 2013 o direito para abrigar a competição. Muito tempo para o COI descobrir só agora as possíveis inconveniências do clima, após anos de trabalho e exposição dos planos dos organizadores.

Mulher ajoelhada no asfalto
A japonesa Rei Ohara desaba após terminar o evento teste da maratona em Tóquio - Charly Triballeau - 15.set.19/AFP

Pesou no debate a força da TV dos Estados Unidos, que investe alto na parceria com o comitê. É um ponto de desequilíbrio em qualquer negociação. Não é segredo o interesse da televisão daquele país tanto pela ausência da concorrência de outro grande evento no período dos Jogos, como também nos horários programados que julga atraentes para suas transmissões ao vivo.

Uma curiosidade, apontada no livro “Olimpíada 100 Anos”, de Sílvio Lancellotti, jornalista brasileiro, escritor, conhecedor profundo de esportes e também de culinária: na vez anterior em que o Japão abrigou os Jogos de verão (também com sede em Tóquio, de 10 a 24 de outubro de 1964) ocorreu registro de um feito inédito até então, o da primeira Olimpíada com uma estação de recepção e de transmissão de imagens de televisão por satélite.

Uma revolução no conceito dos Jogos. Isto porque, dois anos antes, os Estados Unidos tinham lançado ao espaço o Telstar, o primeiro rebatedor de imagem de TV da história da tecnologia.

Além disso, o evento serviu de palco para que o Japão mostrasse ao mundo sua nova realidade após a derrota e a destruição sofridas na Segunda Grande Guerra. Mais: naquela oportunidade, o lendário Abebe Bikila, nascido em uma favela de Addis Abeba, capital da Etiópia, venceu a maratona olímpica pela segunda vez consecutiva, cravando os novos recordes mundial e olímpico (2h12m11s2).

O etíope correu calçado com um par de tênis, diferentemente de quatro anos antes, quando tinha arrebatado o ouro em Roma, com o recorde do torneio (2h15m17s0), mas descalço. Uma lenda do esporte.

A alteração recente do local da maratona e marcha, competições que exigem enorme esforço físico e mental com extensos percursos que colocam os atletas bem próximos dos torcedores, contrariou principalmente os planos da governadora de Tóquio, Yuriko Koike, que queria a disputa na capital japonesa.

Ela criticou a decisão como "sem precedentes" e disse que a mesma não foi por unanimidade. Na capital japonesa, eventos de outros esportes ainda podem ter seus horários de início antecipados sob a alegação de fuga do calor.

A Paraolimpíada, prevista para pouco depois, em setembro, mantém o planejamento com a sua maratona na capital. Além dos Jogos de 1964, o Japão já realizou outras duas Olimpíadas, ambas de inverno, em Sapporo-1972 e em Nagano-1998.

Até poucos meses atrás, Tóquio insistia com os planos de realizar as maratonas, masculina e feminina, e a marcha na capital do país. Havia estudos sobre as possibilidades da programação das largadas daquelas provas às 3h ou 5h da manhã para proteção da saúde dos atletas.

Mas o COI manteve a sua soberania e levou aqueles eventos para a região norte do arquipélago japonês, onde as temperaturas chegam a ser cerca de seis graus célsius mais baixas durante o dia em comparação com o clima da capital na época da Olimpíada. Não é pouca coisa. O percurso da maratona tem 42.195 metros. A defesa de Tóquio ficou difícil diante das argumentações da cartolagem olímpica.

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