Ainda é desconhecido o quadro de arbitragem dos torneios de boxe dos Jogos Olímpicos de Tóquio, previstos para meados do ano que vem. É quase certo, no entanto, que o Brasil não terá representantes no setor porque os únicos juízes três estrelas do país, Marcela Patrícia e Jones Kennedy do Rosário, estão fora da lista de candidatos para atuar no evento.
A dupla atuou na Rio-2016 e todos os escalados para aqueles Jogos foram excluídos das disputas no Japão. Esse posicionamento foi anunciado pela força-tarefa que assumiu a responsabilidade pela organização dos torneios masculino e feminino de boxe na Olimpíada.
O ciclo olímpico iniciado ao final dos Jogos do Rio, e que segue até o evento no Japão, foi repleto de contestações das atividades da Aiba (Associação Internacional de Boxe), que respondia pela condução da modalidade na Olimpíada. Os entraves levaram à substituição daquela entidade por uma força-tarefa. Seguiu-se a adoção de medidas para eliminar qualquer suspeita de irregularidades na gestão administrativa, na financeira, na técnica e na integridade esportiva da Aiba.
Do outro lado do conflito estava o poderoso COI (Comitê Olímpico Internacional), que chegou a ameaçar o boxe de exclusão dos Jogos Olímpicos. Ficou clara no jogo de forças a insinuação do comitê de que a Aiba representava um risco para a sua imagem e que o distanciamento das duas organizações naquele momento seria o melhor passo.
Um dos pontos de atrito se referia a questionamentos do nível das arbitragens nos Jogos do Rio. Sem que nenhuma fraude tivesse sido comprovada, a força-tarefa encarregada de substituir a Aiba na organização dos torneios decidiu vetar a participação em Tóquio de todos os juízes de boxe da Olimpíada no Brasil.
Uma decisão no mínimo intempestiva e radical, que serviu apenas para lançar suspeitas sobre condutas e bloquear antecipadamente a possibilidade de preocupações futuras.
Há 21 anos no boxe, 16 deles na Aiba, Marcela disse que está magoada, que atua na modalidade por prazer e que nunca recusou uma escala para dirigir luta. Discorda da atitude de colocar todos os árbitros na mesma panela. Ninguém apontou nomes e lutas nas quais tivesse havido problemas. Apesar dos obstáculos, ela ainda mantém uma ponta de esperança na reversão do questionável castigo.
Jones Kennedy do Rosário, por sua vez, ficou conhecido e virou estrela durante as disputas no Rio. Quando subia ao ringue e tinha o seu nome anunciado pelo serviço de som, os torcedores repetiam em coro: “Rosário, Rosário, melhor do que Neymar”. Cativou o público. Ele trabalhou também em Londres-2012.
Sucesso no campo profissional, o boxe sempre enfrentou polêmicas no mundo olímpico. Por anos, por exemplo, rebateu pressões que tentaram afastar da Olimpíada a modalidade, acusada de ser um esporte violento. Defendeu-se com teses de segurança de suas disputas e até mudou algumas regras para melhorar a integridade física de seus atletas.
Nos Jogos de Londres-2012, passou a contar com disputas femininas, sendo o último esporte a incluir torneios nos dois gêneros na Olimpíada. Tornou um pouco mais equilibrado esse quesito para Tóquio ao ampliar o torneio feminino com mais duas categorias (agora são cinco), enquanto o masculino caiu de dez para oito.
Transparência e resultados justos nas decisões dos juízes de lutas, além da preservação da saúde e da segurança dos atletas, são aspectos cruciais para a sobrevivência do boxe olímpico. A cartolagem tem muitas responsabilidades por tais garantias.
Com certeza, há juízes limpos no boxe. Espera-se que sejam poucos os bandidos. Os 36 da Olimpíada do Rio nem sequer foram denunciados como suspeitos e acabaram punidos sem direito a defesa.
Evidente que punir indiscriminadamente o quadro de arbitragem dos Jogos no Brasil não foi de bom tom. Não passou de demagogia dos dirigentes. Pior do que condenar por crime de morte sem provas e sem cadáver. A cartolagem é implacável.
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