Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Japão está acuado por Olimpíada, experiência já vivida pelo Brasil

Também tivemos momentos de dificuldades semelhantes, mas com menos intensidade

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Os preparativos da delegação brasileira para participar da Olimpíada de Tóquio estão bem diferentes dos realizados em Jogos anteriores. A pandemia de Covid-19 atrapalhou todos os planos dos participantes em geral e dos organizadores da maior confraternização mundial de paz promovida pelo esporte.

A pandemia segue fustigando o evento, causando insegurança e alimentando o risco de cancelamento. A TV e várias outras mídias continuam retraídas, pouco falam das disputas, porque são parceiras, com esquemas especiais que as vinculam ao evento, e o momento ainda está carregado de incertezas.

Nesse clima, pouco se debate sobre os riscos da concentração de pessoas durante os Jogos. Os grandes patrocinadores também se resguardam na esperança de mais garantias e segurança. Eles investem e ganham muito retorno com o evento.

Os responsáveis pela Olimpíada –os japoneses e o COI (Comitê Olímpico Internacional)– confirmam que as disputas acontecerão, mas a pandemia segue implacável, causando tristeza e mortes em todo o mundo. Os organizadores deveriam se manifestar mais vezes, com transparência. Ajudaria a melhorar o ânimo nos preparativos das delegações.

Os Jogos Olímpicos de Tóquio foram barrados pela pandemia no ano passado e adiados para julho próximo, fato inédito. Nunca havia tido um adiamento, em mais de um século do evento. Cancelamentos, porém, ocorreram nesse período por causa das duas Grandes Guerras Mundiais (1914-18 e 1939-45).

O Brasil também teve momentos de dificuldades semelhantes aos do Japão, mas com menos intensidade e com menor repercussão. Há quatro anos, a organização da Olimpíada do Rio enfrentou questionamentos por causa da epidemia de zika na cidade e outras regiões do país.

Uma carta aberta à diretoria-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), subscrita por mais de 200 pesquisadores de vários países, chegou a recomendar o adiamento ou a mudança de local dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Apesar dos entraves para controlar a crise, os índices de incidência da doença baixaram e os Jogos acabaram disputados sem intercorrências.

Radical foi o posicionamento tomado em 1974, quando o Brasil, sob a ditadura militar, abdicou do compromisso de promover os Jogos Pan-Americanos em São Paulo, agendado para o ano seguinte.

Alegou dificuldades para conter uma onda de meningite no país, que acabou controlada. Restou a dúvida da verdadeira extensão das contaminações. Com a censura imposta pela ditadura na época, a justificativa colou sem contraditórios ou contestações.

Lembro-me, sem recordar a data, que fui o primeiro jornalista a noticiar o fato na Folha. Naquele conturbado período correram versões nos bastidores, repletos de temores, dando conta que a verba do Pan teria sido deslocada para campanhas políticas de representantes do governo, surpreendido pela reação de insatisfação da população.

As eleições de 1974 abalaram a ditadura que, equivocada, imaginava a repetição da bem-sucedida campanha dos seus representantes quatro anos antes. O MDB (Movimento Democrático Brasileiro), de oposição, elegeu 16 senadores, das 22 vagas em disputa, e ocupou 161 das 364 cadeiras da Câmara. Uma acachapante reação contra a Arena (Aliança Renovadora Nacional), da situação.

Aquele Pan já tinha sido descartado pelo Chile, por causa do golpe liderado pelo general Augusto Pinochet que instalou a ditadura em 1973. Então, o evento foi assumido pelo Brasil, mas, com a alegação da meningite, terminou indo para o México. Lá, o brasileiro João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, cravou o recorde mundial do salto triplo, com 17,89 m, uma feliz lembrança.

O esporte faz história, sempre marcada por novidades. Neste ano, sobram emoções e muita tensão no ar.

O COB (Comitê Olímpico do Brasil) continua empenhado nos preparativos para a viagem da delegação olímpica.

Diante dos obstáculos causados pela pandemia, o trabalho praticamente ganhou outra dimensão. O planejamento esportivo, operacional e de proteção à saúde teve de ser adaptado à nova realidade global.

Todo cuidado é pouco. Duas centenas de brasileiros estão classificados em 25 modalidades esportivas.

A operação Tóquio do Brasil teve início em 2018, quando foram transportados ao Japão barcos, botes e pisos de competição. Esquenta neste mês com o envio de nove contêineres de equipamentos para as bases da delegação nacional no território japonês, em Chiba, Chuo, Enoshima, Hamamatsu, Koto, Miyagase, Ota, Sagamihara e Saitama.

Esses dados dão uma dimensão do tamanho dos problemas, embora eles sempre acabem equacionados.

A questão é saber dos anfitriões e do COI, neste momento terrível, qual a segurança que os visitantes terão no Japão, que ainda não controlou a pandemia e nem vacinou adequadamente sua população. Os responsáveis pelos Jogos estão acuados.

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