Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Sem tempo para contornar pandemia, Japão vira refém dos Jogos Olímpicos

Apesar de riscos sanitários, governo e COI estão decididos a realizar megaevento

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O Japão e o COI (Comitê Olímpico Internacional) estão decididos a realizar os Jogos Olímpicos de Tóquio, independentemente do andamento da tentativa governamental de controlar a pandemia do novo coronavírus naquele país.

Ocorre que a crise sanitária é mundial, tornando impossível um bloqueio regional eficiente, pois a Olimpíada envolve delegações de mais de 200 países.

A mídia japonesa não tem varrido a crise para baixo do tapete. Expõe os perigos e riscos da pandemia, principalmente para a população local, sempre com avaliações de especialistas. Grande parte destes é contrária à realização dos Jogos, com solenidade de abertura prevista para dia 23 do mês que vem.

Jogos Olímpicos estão mantidos, apesar de todas as críticas - Issei Kato/Reuters

Os organizadores japoneses –governos e cartolas do esporte no país– e o COI, que reúne 206 comitês nacionais, estão pressionados e confirmam a realização dos Jogos, mas não apresentam ações concretas para respaldar o plano de segurança do evento, que já cumpre adiamento de um ano.

Nova prorrogação está descartada, pois, além dos entraves que acarretaria, também causaria danos à Paraolimpíada, a ser disputada logo depois.

Por isso, os entes envolvidos na organização do evento têm evitado dar declarações mais esclarecedoras sobre as questões sanitárias.

Um exemplo já registrado aqui anteriormente foi o de John Coates, vice-presidente do COI, que, sem revelar detalhes do plano de segurança, declarou recentemente que os Jogos vão ser disputados mesmo com cidades japonesas sob estado de emergência por causa da pandemia.

A distribuição de vacinas para inscritos nos Jogos, providenciada por uma grande fabricante norte-americana do produto, foi uma jogada promocional que teve repercussão. Serviu também de escudo para amenizar críticas e dúvidas sobre os riscos da Olimpíada neste momento.

Essa etapa de avaliações negativas da Olimpíada, com a aproximação das competições, foi resumida numa palavra por Kaori Yamaguchi, bronze em Seul-88 no judô feminino, quando a especialidade foi disputada como esporte de demonstração, e hoje participante do Comitê Olímpico Japonês.

Em reportagem da Kyodo News, reproduzida pela France Presse, ela disse que o Japão está “refém” dos Jogos Olímpicos. Ou seja, em situação extrema, os organizadores bancam o megaevento, garantindo que alguma coisa será feita. Yamaguchi afirmou ainda que os Jogos “perderam o sentido”, mas é “tarde demais” para cancelá-lo.

Pesquisas de opinião realizadas recentemente apontaram que a maioria da população japonesa é favorável ao adiamento ou cancelamento dos Jogos. Há ainda outras expectativas, como a do principal conselheiro médico do governo, Shigeru Omi, argumentando que o país deverá evitar receber o evento se a atual situação sanitária se prolongar até o próximo dia 20.

Nesta segunda (7), o presidente Jair Bolsonaro não perdeu a oportunidade para defender a Copa América de futebol, que começa aqui no domingo (13), com dez equipes, e está sendo muito criticada. Comparou-a aos Jogos Olímpicos, com dezenas de milhares de participantes nas disputas e na organização.

Para Bolsonaro, se lá pode, aqui também. No Japão, apenas 3,4% dos 126 milhões de habitantes foram vacinados. No Brasil, 14,3% estão imunizados com a segunda dose.

As argumentações para a realização da Olimpíada com segurança são frágeis, pois o risco de contaminação pela Covid-19 é uma realidade mundial. Por isso, as informações sobre os mecanismos nas tentativas de neutralização da pandemia estão na ordem do dia.

A presidente da Tóquio-2020, Seiko Hashimoto, em uma coletiva de imprensa, não respondeu ao ser indagada sobre reportagem recente do jornal britânico Financial Times, revelando que “grandes patrocinadores japoneses” pedem, em conversas privadas, que a Olimpíada seja adiada por ao menos alguns meses, para que mais espectadores possam prestigiar o evento.

É certo que torcedores estrangeiros não poderão ir ao Japão assistir aos Jogos, sendo que os organizadores ainda estudam a possibilidade de abertura para o público local. Os patrocinadores acreditam que a presença de torcedores nos estádios ampliará a repercussão do evento, valorizando seus interesses.

Evitar o diálogo não é caminho saudável para um grande evento internacional como a Olimpíada. Os organizadores parecem assustados, temerosos. Transparência ajudaria a gerar credibilidade e confiança, tornando os Jogos mais sólidos.

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